tag:blogger.com,1999:blog-76427887142629138912024-02-07T21:42:32.108-08:00Lentes Cor de RosaVer de um jeito novoLentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.comBlogger49125tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-3812285801707436002023-05-05T11:55:00.000-07:002023-05-05T11:55:18.193-07:00Mercúrio Retrógrado<p> <span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Era mercúrio retrógrado, só podia.</span></p><span id="docs-internal-guid-1ae2276b-7fff-a4fc-e4f9-b1524fede3c9"><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Essa espécie de agonia compartilhada, um tipo de transmissão de pensamento, ou talvez fosse só saudade, só isso, era isso que provocava aquele aperto no peito, aquela falta de ar, aquela agonia sem fim e as lágrimas que caíam sem cessar, um sentimento que jurou já ter abandonado há tempos, há tempos. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Acontece que imagens vívidas do que os dois tinham aprontado começaram a lhe perturbar o sono, a lhe provocar suores noturnos, tremores em músculos cuja utilidade tinha esquecido. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Mas era isso, eles eram isso, uma explosão voraz de liberdade e sensações. Não havia meio termo, não havia barreiras. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Perdiam as estribeiras, as forças, os pudores.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Isso sim, isso fazia falta. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os toques safados, as palavras sussurradas, os gritos e as gargalhadas que ecoavam por todas as paredes naquele período. Quando se lembrava da transformação de suas próprias atitudes parecia impossível, parecia que não era capaz daquela resposta apaixonada tresloucada, intensa. Se desconhecia completamente ao primeiro toque. Muitas vezes ao primeiro sorriso que recebia, o corpo respondia de forma imediata, quase instintivamente, mas tinha o fator coração, o fator coração também contava muito. Era apenas o fator coração que lhe permitia todo abandono, o fator coração entregue como quem nunca tivesse sido capaz. O coração que admirava os olhos, o sabor da boca, da pele. O coração que se derretia aos toques, às palavras. O coração que estava entregue e fora iludido. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Nessas noites de saudades, fazia correr a mão por braços frios, mesmo cobertos, como se fosse possível repetir toques já abandonados, perguntava-se em quais outros braços, em quais outras bocas, toda aquela volúpia poderia estar. Perguntava-se em autoflagelo inclusive se as outras bocas, os outros braços tinham respostas iguais, ou maiores, se as gargalhadas e os gemidos eram acompanhados por vizinhos curiosos como os deles. Numa mistura de ciúme e angústia varava as noites insones. Abandonava-se a pensamentos que se entremeavam a dores e desejos, abandonava-se a conversas que nunca terminariam porque a verdade era que não era conversa que desejava, queria mesmo era travar a única linguagem em que se entendiam aquela que envolvia troca de fluidos e bocas desesperadas. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Mas era ela já tinha consultado os astros tudo isso era apenas Mercúrio Retrógrado e ele logo logo voltaria ao seu curso normal</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Seria bom ficar tranquilo se a campainha não tocasse, se o rosto no olho mágico também não demonstrasse a mesma agonia. </span></p><div><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div></span>Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-73245413268229323592023-03-28T16:46:00.000-07:002023-03-28T16:46:02.666-07:00Os milagres <p> <span face=""Trebuchet MS", sans-serif" style="text-align: justify;">Acordou
com a mão pequena e meiga tocando-lhe as costas, demorou a entender o que
estava acontecendo até sentir dor. A garganta arranhada pela água salgada do
mar. As costas pareciam completamente contorcidas e só então lembrou os
momentos de angustia vividos na noite anterior. Tinha ficado tão feliz por ter
encaminhado bem o salvamento do barco perdido que se descuidou e foi pega por
uma onda gigante, lembrou-se do terror de revirar em muitas ondas e acreditar que era o fim.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">Agora
era como se todos os sentidos estivessem acordando, sentiu a areia desconfortável
e quente em que estava deitada, ouviu as vozes de um homem e uma menina falando
sobre ela. A boca inteira ardeu do sal da água. O nariz também se manifestou
contrário a acordar. A cabeça girou ao tentar levantar, mas sua atitude foi
imediatamente interrompida por uma mão grande. De alguma forma aquela mão a confortou,
e a deixou segura para abandonar-se novamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">Sentiu-se
levantar e pela primeira vez, em quase 7 anos, não eram suas próprias asas que
a tiravam do chão. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">**<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">Acordou
com a pergunta insistente de uma vozinha infantil, “você é um anjo?”, era uma
pergunta complexa. Não se lembrava de ter nascido anjo, lembrava-se apenas de
ter se tornado um em determinado ponto de sua vida e justamente nesse ponto era
que começava seu destino e sua desgraçada. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">Sentiu
o tecido macio do lençol a lhe tocar o rosto, e abriu os olhos, um instinto natural de
prazer lhe arrancou um sorriso. Já não sentia dor, estava deitada de bruços
numa cama confortável, há algum tempo não sabia o que era conforto. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">A
menina que lhe acariciava os cabelos também sorriu e saiu correndo. Ela roçou o
rosto no tecido delicado, sentiu o perfume de limpeza, queria água, mas não
precisou pedir. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">Como
se alguém tivesse lhe ouvido os pensamentos surgiu a sua frente um copo com líquido
amarelo e de cheiro doce. Sentiu-se cuidada. Os olhos encheram-se de lágrimas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">Imediatamente
foi questionada sobre dor. Sentiu-se ainda mais miserável. Durante muito tempo
suas próprias necessidades tinham sido negligenciadas, havia tantas pessoas a
serem salvas, tantas coisas a serem feitas, tantos conselhos a dar. Ouvir
perguntas sobre como se sentia era, de uma certa forma, novidade. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">Sabia
que as costas estavam num estado assustador, podia sentir as asas retorcidas e
tentava ao máximo não mexê-las. “Apliquei um anestésico, mas não tenho certeza
se fez efeito”. “Fez”, ela respondeu. Ele sorriu, o sorriso aberto e a maneira
delicada como a tratava contrastavam com sua aparência grande e sólida.
Obrigada, isso nunca tinha me acontecido antes. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">A
menininha aproximava-se devagar, “ela fala”, disse. Sorriu, “falo sim, desculpe-me
não responder sua pergunta, mas eu realmente não sei o que dizer diante dela”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">“Obrigada
por me ajudar”, disse diretamente para ele, “as pessoas geralmente fogem de
mim, ou me pedem milagres que eu não posso realizar”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">“Eu
sei”, ele disse sério, “poucos oferecem a mão”. “Obrigada por fazer isso”, ela
respondeu. “Eu ainda não examinei suas asas porque imaginei que acordaria por
causa da dor. Quer que eu examine?” Ela sorriu, viver sem dor era bom, mas
viver sendo alvo de sorrisos de pessoas que não a consideravam uma aberração
era melhor ainda. “Você faria isso, doutor?” “Claro, anjinha”. A menininha riu
também. Ela voltou a se deitar de bruços. Sentiu o par de mãos grandes tocar
delicadamente as penas grandes das sete camadas. Um arrepio estranho a
percorreu, era uma sensação quase igual aquela do primeiro vôo. Um prazer novo
e estranho. Ele procurava lugares quebrados. Quando parou na base das asas. Foi
que ela voltou a sentir, mas não dor exatamente. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">Imediatamente
uma sensação de calor foi se espalhando pelas costas irradiando de onde as mãos
dele tocavam. Como se só de tocar ele fosse colocando no lugar tudo que estava
contorcido. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">Uma
espécie de torpor foi tomando-lhe o corpo em seguida, sem perceber caiu no sono
novamente. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">***<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif"> <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">O
cheiro de boa comida a despertou dessa vez. Um prato estava sendo depositado na
mesa ao lado da cama. Ela sorriu de novo, aquilo começava a ficar frequente, a
sensação de cuidado inesperada. Ele a olhou, “está com fome?” Ela sentou-se e
as asas acomodaram-se perfeitamente sem doer. Esperando a dor, ela o olhou
surpreendida. Ele baixou a cabeça, meio encabulado. “Estão curadas”, disse. Ela
ficou de pé, mexeu-as, elevou-se, sorriu ainda mais. Girou no ar com os braços
abertos. “Estão curadas”, repetiu extasiada. “Não sinto mais dor”, exclamou
surpresa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">“E
fome, você sente?” Ele queria trocar de assunto, visivelmente constrangido. “Sinto,
sinto. Quem é você?” Ela perguntou de repente enquanto sentava-se com o prato
de comida. “Você me acolheu, não teve medo, não me pede nada, me curou, porque
eu sei que você me curou, eu lembro de sentir suas mãos esquentando quando
tocou minhas costas”. Ele sorriu, “acho que de alguma forma temos funções
semelhantes você ilumina ao chegar, visualmente explode em nossos olhos com
beleza, com leveza, irradia uma espécie de bondade. Eu toco e a coisa acontece”.
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">De
repente ela aproximou-se tocou-lhe o rosto. Novamente a sensação de excitação e
liberdade, era como se ele sem nunca ter perguntado, soubesse exatamente quais
eram suas dores. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">Uma
instantânea comunicação iniciou nesse momento. Amizade, reconhecimento, carinho.
Retirou a mão rápido, como que com medo e ele também levantou num pulo, aquilo
era alguma coisa, podia sentir, embora não soubesse dizer exatamente o quê. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">***<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">As
asas estavam curadas. Mas alguma coisa dentro dela ainda estava ferida, embora continuasse
sem saber o quê. Nunca tinha sido muito fácil dizer ou exprimir, ou sequer
assumir, qualquer sentimento que tivesse. Mas esse era especialmente
complicado. Gostava de estar ali naquela terra longe de tudo, perto da praia.
Gostava de brincar de correr com a menininha e de leva-la a voar por cima das
ondas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">Mas
gostava principalmente do sorriso que o pai da menininha sempre lhe dava. Uma
mistura de calor e atração que sempre a confundia, e ao mesmo tempo a deixava
apreensiva, sabia que um dia teria que ir embora, mas não sabia como abordar o
assunto, e muito menos ir mesmo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">****<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">Já
fazia quase um mês que caminhava pelos próprios pés, até porque tinha percebido
que por mais maravilhoso que fosse voar, a experiência a tinha tirado do
contato com a realidade. Já tinha percebido que as camadas das asas estavam
menores, as penas cada vez mais ralas. Não sabia se estava caminhando para um
processo de fim.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">Sabia
apenas que se deixar ficar a estava transformando. Das sete camadas de penas
apenas cinco ainda continuavam iguais a quando tinha chegado, e isso a deixava
a apreensiva. Se quisesse voar teria que fazer trajetos curtos. Nada mais de
longas viagens. O que a deixava nervosa, uma perda de liberdade consentida,
porque sabia que era ficar que a estava prendendo a terra. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">Ficar
presa era o de menos porque estava se sentindo bem, mas será que a queriam ali,
esse sempre tinha sido o dilema, de toda a vida, antes e depois das asas.
Lembrava bem da quantidade de vezes que quisera não fazer parte da equação
familiar e deixar que eles mesmos resolvessem seus problemas, e, no entanto,
eles sempre pediam suas opiniões e ajudas mas nunca, nunca, nunca faziam o que
ela acreditava ser o certo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">“Suas
asas estão diminuindo”, ele chegou a mesa certa manhã. “Você também percebeu?”,
foi um misto de pergunta e lamento. “Se você estiver doente eu posso ajudá-la”.
“Você nunca se perguntou por que eu tenho asas? E se as asas forem a doença e
você tivesse me curado?” “Me desculpe”, ele disse realmente penalizado. “Pelo
quê?” ela respondeu sem graça. “Talvez já esteja na hora de andar pelas minhas
próprias pernas”. “Você não consegue mais voar? Talvez eu tenha feito o pedido
errado, quando tentei curar suas asas. Pedi que a dor passasse.” “Não foi o
pedido errado, você tem sorte de ser atendido. Eu nunca sou. As pessoas querem
que eu as ajude, mas elas mesmas se metem em confusões por egoísmo ou por falta
de coragem de se corrigir antes de cometer os erros.” “Eu sei como é”, ele
disse, “elas se entopem de coisas que fazem mal e depois correm aqui para que
eu as cure”. “E você as cura, sempre não é?” “Sempre, mesmo sabendo que elas
farão absolutamente igual.” “Seu dom é extraordinário, você tem muita paciência
e é ouvido e atendido.” “Você é linda.” <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">“Mas
meu dom não ajuda ninguém, nem a mim. As pessoas ficam encantadas quando me
vêem, mas imediatamente se põe a me pedir milagres, eu digo o que elas devem
fazer para alcançá-los, mas elas simplesmente acham complicado demais. Querem
que eu mexa as asas e as coisas aconteçam. Demoram pra entender que são apenas
asas e não varinhas de condão,” riu com amargura. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">“O
que vai acontecer quando você parar de voar?” Ele estava preocupado. “Talvez eu
volte para casa, ou talvez não tenha mais casa, não sei.” “Onde está sua
família?” “Achei melhor sair, eles estavam sofrendo com minha anomalia. Ninguém
aceita ter um anjo entre os seus.” “Você fala com muita dor. Há quanto tempo
você é anjo?” “Quase sete anos, um dia acordei e tinha asas, lembro vagamente
de ter pedido credibilidade, acho que Ele super valorizou as asas! Há quanto
tempo você cura?” “Um dia meu pai estava muito doente e eu era muito criança
para ficar sozinho, pedi a chance de ajudá-lo, acordei com as mãos formigando,
fiz massagem no corpo inteiro dele ele amanheceu bom.” “Que lindo!!” “Ele
contou para todos na nossa aldeia e eu não tive mais paz. Mudei pra cá, conheci
a mãe da minha filha, ela não podia engravidar e quando fizemos amor eu a
curei. Com o tempo algumas pessoas acabaram sabendo, houve uma epidemia na
aldeia perto daqui, eu era muito requisitado, ela não suportou a pressão e foi
embora.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif"> <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">“Caramba,
e deixou a menina?” “Não, um dia eu voltei cansado, esgotado mesmo, muitas
pessoas da vila próxima tinham vindo pedir ajuda, e as duas estavam aqui
doentes, me esperando já há alguns dias. No meu cansaço senti raiva, porque ela
tinha ido se expor, curei minha filha, mas quando tentei salva-la já era tarde
demais. Socorri dezenas, acho que centenas naquele mês e deixei a mãe da minha
filha morrer, não me sinto afortunado.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif"> <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">Lágrimas
rolavam pelo rosto dela, ao ouvir a história. Sabia exatamente como ele se
sentia, ter um dom que infelizmente atrapalha mais que ajuda. Embora não se
pudesse negar, que era um dom. Tocou o braço dele em sinal de apoio e
compreensão e de uma vez duas camadas de penas das duas asas, se largaram no
chão. Levantaram-se ambos da mesa assustados. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Trebuchet MS",sans-serif">“Doeu?”
Ele quis saber, olhando o chão coalhado de penas grandes e brancas. “Não foram
as asas que doeram.” “Como assim?” Ele ainda olhava assustado, o rosto dela
molhado de lágrimas. Ela voltou a tocar nele, pegou as mãos grandes entre as
suas e a pôs sobre o coração. “É aqui que eu sinto dor. E ela não é pelas asas
que perco agora, é pelo egoísmo de ter pensando que mais importante era dar
inteligência e conselhos. Era achar que as pessoas me vendo, obedeceriam. O
lugar em que as peles se encontravam estava quente. A mão dele quente sobre o
peito, o peito quente e batendo forte, sob a mão. <o:p></o:p></span></p>
<span face=""Trebuchet MS",sans-serif" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">“Você vai realmente
parar de voar?” “Acho que aqui e você sempre foram meus destinos.” Ele sorriu,
sabia exatamente do que ela estava falando!! </span>Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-77163269053214148472023-02-23T15:15:00.001-08:002023-02-23T15:15:54.794-08:00No Marulhar das Águas <p>Bastava qualquer maré mudar, mesmo que elas conhecessem nos ossos os horários e comportamentos daquelas águas, bastava um banzeiro qualquer e se olhavam, porque quando ele se fora também tinha sido uma maré inesperada, um movimento inesperado, um vento desconhecido, quando o viram pela última vez suas perninhas rechonchudas corriam em direção a borda da palafita tinha sido tudo inesperado e ele correra para água com os bracinhos esticados como se ali tivesse algo que ele realmente quisesse pegar e ainda era só um bebê. </p><p>Depois disso, tinha sido uma espera sem fim, num tempo contado nas marés e nas estranhezas. Qualquer onda inesperada feita por qualquer lancha que encontrava aquele lugar perdido nos muitos furos da maior ilha fluvial do mundo fazia com que seus corações disparassem.</p><p>Muitos tinham dito que crianças daquela região sumiam com alguma regularidade, mas nenhuma naquelas condições, a maioria só tinha lamentado mesmo. Mas as duas sabiam que mesmo ele sendo um bebê, marés não o levariam se ele não quisesse ir. Elas sabiam que ele foi porque algo naquelas vagas o tinha atraído. Durante anos chegaram a vê-lo andando e rindo pelas matas, quase uma vez por ano uma delas o via ou ouvia seus risos e punham-se a correr desembestadas pelo alagado na tentativa de alcançá-lo, com o tempo botaram isso na conta da saudade. </p><p>Mãe e filha se olhavam com frequência quando questionadas sobre o pai da criança, mas pais de filhos de adolescentes quase nunca ficavam e quando ficavam traziam mais problemas do que as crianças. </p><p>O bebê delas que chegara tão inesperadamente, que fora chamado pelos vizinhos de filho de boto, aquele apelido que todos os filhos sem pais da região recebiam, aquele bebê que vingara numa barriga ainda tão jovem. Aquela criança era mais do que duas ribeirinhas esfarrapadas poderiam entender, uma velha e uma quase criança não sabiam realmente como lidar, mas até hoje sentiam muita falta daquela criaturinha, ainda que já quase sete anos tivessem passado. A força, o sorriso e a presença daquele bebê estavam entranhados nelas como o cheiro da maresia. </p><p><br /></p><p>A brisa que agitou a saia da velha ribeirinha era fria, os pelos foram céleres em avisar que algo estava para acontecer, era um sinal, do quê, ela sabia que não alcançaria até que tivesse acontecido. A filha veio para o girau como que chamada também pelo vento, os olhos que miraram a mãe eram lacrimosos. - É ele, diziam-se sem palavras. O assobio que percorreu as copas altas dos açaizeiros garantiu, algo beirava o virar do tempo, o quê ainda era impossível saber. Há muito não sabiam o que era doença, não sabiam o que era fome, não sabiam nada que não fosse apenas uma saudade funda e um lamento pelo menino que tinha caído no rio e sido engolido pela maré, um lamento que por vezes era gastado naquelas correrias no mato, nos alagados, naquela incrível missão de tocá-lo, uma missão sem fim.</p><p>O tocar das águas nos paus da palafita também tinha mudado, uma espécie de ínfimo maremoto, sentido apenas nos pés acostumados a incerteza do pisar sobre as águas, em paus e madeiras impossíveis de serem firmes. Ali naquele fim de mundo a espera era ainda mais angustiante para quem sabe esperar em vão. Tudo naqueles avisos eram diferentes do dia que ele tinha sumido. Porque diferente da violência do vento, das águas, daquele dia, hoje tudo era suave, tudo poderia passar despercebido para quem não tem o costume de sentir o mundo. </p><p><br /></p><p>Esperaram</p><p><br /></p><p>A bruma que tomou o mato, não assustou as duas, fechou a maré, parou o vento e silenciou o rio. Foram tomadas de um amor tão grande por tudo que apenas se deram as mãos por sobre a madeira molhada e gasta, ao virar-se para onde deveria correr o rio, ouviram uma voz doce de criança, “mamães”, viram formar-se diante de seus olhos o corpinho bem maior do que o de seus dois anos como se ele tivesse vivido perto, mas através do manto da bruma, ela quis correr, mas viu a mão que pousava carinhosamente no ombro do menino, uma mão que existia e ao mesmo não estava lá, como se fizesse parte da névoa ao redor. </p><p><br /></p><p>Eu pedi para lhe ver, para vocês me verem, saudades dos seus abraços e correu para elas. O abraço que ganhou foi maior que tudo, era ele, era o corpo dele, era o cheiro dele, misturado com perfume da maré e um pouco pitiú. Três corpos se uniram sobre o trapiche da casa velha. É só um beijo, um abraço, mamãe da água atendeu ao meu pedido sobre a nossa saudade. Eu prometo não vir mais brincar e assustar, amo vocês. </p><p><br /></p><p>Igual a como tinha começado, tudo tinha sumido, no vento, na brisa, no corre calmo das águas, elas choraram, mas sabiam ser agora possível seguir a vida, sem ele. </p><p> </p><p>Mas isso já faz muito tempo. </p><div><br /></div>Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-91680259388758544892023-02-05T16:41:00.000-08:002023-02-05T16:41:14.482-08:00Incondicional<p><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"> </span></p><span id="docs-internal-guid-977a15bd-7fff-cd5e-04a2-5d82fad6ac95"><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Estou completa e terrivelmente apaixonada, contra todos os bons prognósticos, eu simplesmente caí de amores na mesma hora em que nossos olhos se encontraram. É claro que os resquícios de racionalidade me mandavam ter calma, mandavam eu não me derreter tão a olhos vistos. Existiam muitas coisas a serem consideradas. Não era aquilo que eu tinha planejado, não era aquele sentimento que me tomava toda, me enternecia, me deixava viva. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Não, eu tinha planejado outra coisa, eu tinha planejado um amor que coubesse no meu cotidiano, que fosse confortável, calmo e tranquilo. Não isso, não esse irremediável e total descontrole emocional por essa criatura, esse desejo de tomar no colo, acariciar a cabeça e fazer juras de amor eterno, encher de beijos, me entregar inteira. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Eu tinha planos, e em nenhum deles cabia essa paixão que não me deixava escolha. Desde o primeiro encontro eu já não duvidava de que ele seria meu, a primeira vez que minhas mãos roçaram o pelo macio, a alegria que me tomava quando o encontrava era única, era a segurança de um amor comprometido para sempre. Por quanto tempo durasse o nosso para sempre, eu sabia que era para sempre.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A chegada dele foi exatamente num dos momentos mais cruciais da minha vida, eu precisava de suporte, segurança e sinais de que aquela mudança era correta, de que era a decisão acertada, talvez isso fosse a sensação de gatilho, eu queria um sinal e ele tinha aparecido como a tábua de salvação, ao mesmo tempo solução e problema. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Solução porque sua presença me confortava, éramos ambos dando os primeiros passos em vidas novas, poderíamos aprender juntos como funcionaria aquilo e foi ele que me mostrou uma outra percepção de realidade, como aquele universo que ele habitava precisa de alguém como eu, assim como eu ele me ensinou a viver e tomar consciência de novas realidades. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Problema porque ele extrapolava todos os planos, ritmos, circunstâncias e exigia cada vez mais tempo, mais comprometimento, mais atenção, a ponto de que meus horários eram determinados pelas necessidades dele, para qualquer pessoa isso pode ser considerado uma prisão, mas para nós não. Para nós, cada separação e cada encontro era um tormento e uma benção. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">E eu fui capaz de fazer tudo que qualquer pessoa normal não faria. Gravei nome em metal. Comprei enxoval, vigiei o sono, comprei remédio. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Alimentei.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Todo dia.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Por 12 anos, nosso amor só cresceu, ele já não é mais a bolinha de pêlos, mas continua cheiroso, me mostrou que o mundo é melhor quando a gente ama incondicionalmente tudo ao redor, me mostrou solidariedade, foi ele que me mostrou a primeira ninhada de gatinhos pedidos, angustiado por socorro, por ele eu dediquei o que pude a causa animal. Por esses pelos beges e esses olhos doces, pelo sorriso sem vergonha, eu sou capaz de qualquer coisa, entender de dosagem de remédio, virar noites sem dormir. Foi ele o responsável por me tirar da cama, nos dias mais difíceis, foi ele que exigiu que eu vivesse quando eu já não encontrava tanta razão. Nas vezes que eu cheguei perto de desistir, era por ele que eu me levantava da cama. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Meu Pepê foi o responsável pela segurança que eu nunca pensei que encontraria. Meu verdadeiro amor para sempre e incondicional. </span></p><div><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVMZ_ygupA-TVo6JRvkiiD4Y81uTxYB-hYUtsnMhPH4GTvVnN0BZo9feZieZo5zQcsSYqEJupKMdtjmXpb718cO8xJuEKfaLP7pLlWhgOEBXs61bEQEfzO4qr_U-2zs66lnmPxQTpLdCG9iJLq9IBBoSeFVJ-AZ5_ia40Ji7RPAOVn2dZzgceRRxNVYw/s1280/WhatsApp%20Image%202023-02-01%20at%2008.59.07.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="1053" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVMZ_ygupA-TVo6JRvkiiD4Y81uTxYB-hYUtsnMhPH4GTvVnN0BZo9feZieZo5zQcsSYqEJupKMdtjmXpb718cO8xJuEKfaLP7pLlWhgOEBXs61bEQEfzO4qr_U-2zs66lnmPxQTpLdCG9iJLq9IBBoSeFVJ-AZ5_ia40Ji7RPAOVn2dZzgceRRxNVYw/s320/WhatsApp%20Image%202023-02-01%20at%2008.59.07.jpeg" width="263" /></a></div><br /><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div></span>Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-55133699757322413202021-03-02T19:12:00.002-08:002021-03-04T18:12:26.694-08:00 Fogo e enxofre<p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right;">Para o menino com sorriso enviesado </p><p class="MsoNormal" style="text-align: right;">Maick</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O certo era que aquele sorrisinho
enviesado não era de Deus, disso ela sabia desde a primeira vez que o tinha
encarado, mas não tinha certeza se aquele sorriso era só para ela, ou se a todos
ele dedicava o mesmo tipo de sorriso. Tá bom! Era melhor nem saber e seguir
olhando para o outro lado como sempre. Fingir que não era com ela, nem quando
ele chegava muito perto quase afrontoso oferecendo coisas, canetas, papéis,
água.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">“Que inferno era aquele que aquele
menino prometia com aquela boca, Senhor?” <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A vontade era mesmo de fazer o sinal
da cruz, e sair andando o mais rápido possível de perto. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">“Sangue de Jesus tem poder”<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Passou a ir com o crucifixo no peito,
quem sabe assim... Nem assim, uma vez tinha lido que o diabo mesmo, o demônio
mesmo de verdade, não tinha medo desses símbolos, não, que isso era invenção de
padre para atrair mais gente para suas igrejas e vender mais bugigangas. Uma vez tinha lido
que o diabo mesmo tinha medo era de risada, de alegria, mas como ela ia ficar alegre
e fingir que não se importava com aquele risinho enviesado e aquele olhar insistente
ao redor. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">“Inferno” <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Deveria correr, sabia que deveria,
mas era um tal de arrepio nos pelos, de frenesi, de expectativa, que chegava a sentir uma queimação
interna. Primeiro pensou, e quis, que fosse gastrite, mas as cólicas vinham de bem mais
embaixo. Deveria não se importar, ou se sentir
importunada, não... não aquilo que sentia, que sabe-se lá o que sentia, que deixava
as pernas meio bambas e tolas. Nem uma das trocentas orações que aprendera conseguiram
lhe fazer fugir. Talvez devesse falar com alguém, talvez estivesse sob algum encantamento,
algum hipnotismo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">“Pai, perdoa-me porque pequei” </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não, ela ainda não tinha pecado, mas estava impossível seguir assim. Era um
entrar em casa e trancar a porta, como se só isso desse jeito, só assim conseguisse se livrar
de todos os demônios que a perseguiam, demônios com sorrisinhos enviesados, demônios
com caras de meninos bem criados e bem nascidos, como assim? Como assim os demônios
não eram feios, não eram grotescos, não fediam a enxofre? Onde estavam todas as
evidências que lhe tinham feito reconhecer a vida inteira? <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">“O diabo se faz bonito senão ninguém
cai na tentação” <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Por que será que quando ele estava
por perto era só em tentação que ela pensava? E ele parecia adivinhar que a
mente dela a torturava, porque chegava sem avisar, às vezes falando coisas próximas
ao ouvido dela, coisas que não eram nada, nem jamais significariam nada, mas
que a faziam quase se encolher e sair de perto, sorrir sem graça com medo de entregar qualquer coisa que não deveria, um nome, um local, uma vida. A alma?<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Cada dia era mais difícil que o
outro, as roupas recatadas lhe faziam queimar mesmo no ar-condicionado, o coque
comportado por vezes queria ganhar vida e começava a deixar os cabelos escaparem
pelo pescoço, que ele tinha tocado uma vez, num fio, de brincadeira. Eles agora pareciam rebeldes demais para serem controlados.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">“Você tem certeza que é essa a
sua fantasia para o Hallowen?” </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Era obrigada a ir, iria como quisesse que a
aturassem de freira. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O próprio Lúcifer não caminharia
pela terra com tanta espontaneidade, com tanta segurança, com tanto riso cínico
enviesado estampado nos lábios. O Lúcifer da série talvez, esse aqui também. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">“INFERNO”<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não houve sequer uma pergunta,
nem conversa, nem palavra, uma mão estendida e lá foram eles para o meio do salão,
era festa, não era? Sentiu-se liberada. Sentiu-se viva. Se aquilo era o que diziam
que deveria ser, estava perdida, não havia passo errado. Era dança. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">E quando as bocas finalmente se
encontraram entendeu Bernini com a sua Santa Teresa. Quais êxtases a mais ainda
seria possível desfrutar naquele corpo, naquela boca? Era urgente descobrir. <o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">No outro dia, não havia crucifixo
no peito, não havia saia comportada, não havia coque. Pisou naquele lugar como que possuída
de uma nova vida. Uma vida plena delícias. Algumas pessoas ficaram surpresas,
um determinado sorriso enviesado acompanhava com os olhos, também satisfeito. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></p><br /><p></p>Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-3690756738566335012021-02-24T15:06:00.000-08:002021-02-24T15:06:41.690-08:00O vão<p style="text-align: justify;"> <span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; text-align: justify;">A casa, como ela é,
existe há menos de 20 anos, mas o espaço em que foi construída já era habitado
há mais de sessenta, ouso dizer pela mesma família. A primeira construção era
de madeira podre, furtada das obras que ergueram os prédios do DNR, lá no Entroncamento,
trazidas na cabeça, na década de 1960 mais ou menos. A habitação era mal
acabada, cheia de buracos entre as tábuas por onde hordas de carapanãs entravam
todo entardecer, desde essa época a passagem que ligava a rua até os terrenos
nos fundos já existia.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Os moradores das outras
casinhas também de madeira podre na parte mais alagada do terreno usavam
justamente esse vão entre as casas como passagem, porque a São Luiz ainda não
tinha sido atravessada pela macrodrenagem, que abriu e saneou o canal da
Pirajá, e que também acabou com os igarapés e a diversão da molecada. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">As famílias, que também
eram nossa, viviam de atravessar a passagem ao lado da casa. Esse pequeno beco
escuro que durante anos foi delimitado por duas paredes de madeira podre e
pobre que sempre exalou um odor estranho, embora nunca, nunca, tivesse passado
por ali esgoto algum, e que o lodo e o lamaçal do terreno só começassem de
verdade três casas depois. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Desde essa época nunca
faltou história de pessoas que ao atravessar o beco tivessem sido assustadas
por qualquer coisa, uma voz, um roçar nas pernas – confundido com cachorros que
nunca tivemos – até tapas leves. Uma vez a mamãe ouviu a voz da vovó chamando
no escuro do beco e vovó já tinha partido há muito tempo. Nunca ninguém levou
qualquer uma dessas histórias a sério. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Os que moravam no limiar da
mata da Aeronáutica já tinham suas próprias histórias assustadoras para contar.
Homens de branco que chamavam perto de poços. Olhos vermelhos, que impunham
toque de recolher. Coisas que todos sabiam, mas que ninguém de verdade se
importava porque antes das visagens a população do local temia mesmo eram os
soldados da aeronáutica que ameaçavam de despejo os moradores. O terreno era
deles. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Com o tempo, as casas de
madeira deram lugar a casas de alvenaria – só bem depois que a luta pela permanência
no local foi a Brasília - viraram casas grandes, a passagem foi fechada, a São
Luiz abriu, os moradores tiveram a rua saneada, asfalto, mas o vão entre as
duas casas continuou no mesmo lugar. Os arrepios estranhos de pessoas mais
sensíveis seguiram, afastando médiuns e meio médiuns das janelas que ficavam
naquela parede, sonhos estranhos tomavam aqueles que ousassem dormir próximos a
essas janelas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"> </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRLSsDB0pWUdM7QniqPlFaxCAoroxNInku-YBX2nEqCSW8Fm6jL79YXzlKwg9WZXpoBJWK-39kgMQkAgHEKrEejvGKxvqlKAIw0mQgm-PR_4FdmlbIZ5pDuZaCN26U2-nblCt7kvBcSOps/s850/Beco.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="566" data-original-width="850" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRLSsDB0pWUdM7QniqPlFaxCAoroxNInku-YBX2nEqCSW8Fm6jL79YXzlKwg9WZXpoBJWK-39kgMQkAgHEKrEejvGKxvqlKAIw0mQgm-PR_4FdmlbIZ5pDuZaCN26U2-nblCt7kvBcSOps/s320/Beco.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Na casa ao lado,
moradores se sucederam, nenhum deles vizinhos perfeitos, filhos com problemas
com álcool. Moças com problemas com drogas. Crianças adoentadas. Brigas
homéricas sempre foram o tom da casa ao lado. Invariavelmente entrávamos na
briga, seja por disputas de metros de terreno, seja por motivos de vizinhos
mesmo, afinal a paz entre vizinhos nunca é real ou duradoura. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Nos últimos 15, 10 anos,
não sei ao certo, o único filho que sobrou da dona do lugar se casou, ou arrumou
uma mulher e trouxe para viver com ele, dizem que se encontraram na ala
psiquiátrica do Hospital de Clínicas, informação nunca confirmada por ninguém. As
outras duas irmãs sumiram no mundo e há muito tempo não se sabe delas, até a
mãe dele acabou indo dormir na rua um período longo. A convivência com a nova
nora era impossível. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">As brigas diárias, as
humilhações constantes, a falta de hora para romper o próximo vendável de
xingamentos, não perturbava só a pobre velha mulher, mas a nós da casa ao lado
também. Quando a velha sumiu, até quisemos denunciar por achar que ela estava
enterrada no quintal. Mas aí uma prima dela contou para a mamãe que a viu na
rua, morando debaixo de uma marquise. Qualquer lugar parecia mais lar do que a
casa construída com tanto sacrifício. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Seguimos nossa vida acompanhando
diariamente o carinho trocado entre o casal. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">- VAGABUNDO, CALA A BOCA,
TU NÃO SERVE PARA NADA. EU VOU ENCHER TUA CARA DE PORRADA<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Palavras que atravessavam
as paredes de tijolos reverberavam no cimento da parede da nossa casa, invadiam
nossos ouvidos e se jogavam no vão entre as casas como pedras. De manhã, de
tarde, à noite, com alguns intervalos de silêncio, que também eram assustadores,
pois sabíamos que quando a briga viesse poderia sobrar para nós, com as
queimadas de lixo, o lixo das árvores enchendo o vão. Sempre o turbilhão de
raiva respingava em nós. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">- VAGABUNDA, TA DOIDA
PARA DAR O RABO. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">É por o pé na rua,
esperar na frente de casa, e pronto ser afrontado, perseguido e algumas vezes
xingado. O pior é saber que xingar de volta se transformaria em infinito
looping de xingamentos, o que sempre nos fazia seguir adiante sem quase nunca retrucar
de volta. Quase nunca. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Anos vivendo nessa
agonia, não há alma que se pretenda boa que não se contamine com reverberação
de xingamentos diários, raiva pura e simples. Foi numa manhã qualquer que os
gritos recomeçaram direcionados a nossa casa, caindo como flechas no peito da
mamãe, junto com montes de galhos de árvores sendo despejados de cima da laje
no vão entre as casas. Sem nem me dar conta devolvi xingamentos, gritos e
palavrões, com a voz se elevando de volume e impondo silêncio a que gritava de
lá. O tom subindo a cada frase num rebimboar de palavrões que em casa ninguém
reconheceu como meus. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">- CALA A TUA BOCA. QUERES
APANHAR? DESCE DAÍ AGORA E TU VAIS VER – <o:p></o:p></span></p>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Todas as frases ditas
eram só a repetição daquelas muitas vezes escutadas e repetidas à exaustão pela
própria agressora. Os gritos reverberaram nas paredes do vão e chegou até aos
trabalhadores da obra próxima, que pararam para ver o que estava acontecendo,
pararam a makita, pararam o martelar e vieram ver a vizinha se encolher,
diminuir o tom de voz, até sumir na abertura da laje ainda que murmurasse os palavrões
de sempre mas já cada vez mais baixos. Os gritos ainda ecoavam pelo vão entre
as casas mais um minuto, antes de eu me sentar para tomar café da manhã, com
sensação de ter deixado de ser eu por uns minutos.</span>Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-31630642746965545712019-06-06T22:33:00.000-07:002019-06-06T22:33:12.439-07:00Atravessar<br />
<div class="MsoNormal">
Quanto tempo você leva até perceber que já não é possível
voltar sua última ação, que o ctrl+z já está desativado e você finalmente
sobrou nua olhando o rosto da pessoa que você deseja e não tem mais como dizer,
não é bem isso, ou era brincadeira?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
A encruzilhada eu atravessei, talvez daqui em diante tudo
deva ser diferente, e nós nunca mais passaremos tardes infindáveis escolhendo
músicas no meu velho toca-discos. Talvez daqui em diante nunca mais banhos de
chuva despreocupados depois do cinema com histórias de heróis. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Sei que estou no lugar errado, na hora errada, vestindo nada
do jeito errado e percebo que, bom, os dois pares de olhos que me olham, olham
com espanto. As pernas, as minhas, tremem e se houvesse algum traço real de álcool
no meu sangue ele agora estaria evaporado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Roberta, você pode nos dar licença?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Continuei muda, quieta e nua no mesmo lugar, não sei que
tipo de mensagens meus olhos transmitiam, mas meu cérebro realmente não tinha
nenhuma para transmitir. A moça saiu, discreta, gostei dessa moça, não disse
nada, não perguntou, não questionou, apenas saiu. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Meu corpo que não me obedecia mais há exatos 10 minutos não
se mexeu nem um milimetro. Ele também parecia sem pressa para me livrar da
agonia. Só sei que era uma agonia infindável que já durava alguns anos e se
remexia principalmente na parte do corpo que o desejava dolorosamente, alguns poderiam
dizer que eram os seios, mas acho que na verdade, era o coração. Meu coração já
não aguentava mais aquele ir e vir de toques furtivos, eram furtivos?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Regina, você sabe o que tá fazendo? Por favor, me diz que
sabe<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Se eu tivesse um cérebro, teria respondido, sim, eu sei. Mas
num corpo que é todo desejo palavras são ilusões sem sentido. Percebi que ele
evitava me olhar, fazer aquele olhar masculino que por vezes é desrespeitoso
que avalia o material disponível dos pés a cabeça. Os olhos dele só achavam meus
olhos e talvez eu devesse ter rebolado o rebolado mais exagerado que eu aprendi
na aula de dança do ventre para que ele pudesse por favor não vasculhar minha alma
daquele jeito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Sei<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Uma voz disse em algum lugar que era de mim, mas eu procurei
quem tinha dito, porque eu sequer era capaz de pensar numa resposta. Tinha
virado o rosto para o lado quando ele alcançou meu rosto com as mãos. – Eu vou
cheirar sua boca, se tiver álcool suficiente para você desmaiar eu vou te
vestir e te levar para a casa – ele sorria, não sei porquê.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Eu não bebi<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Então me explica o que é isso<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Eu agora estou disposta a perder tudo, ou ganhar tudo, de
metade eu já tô cheia<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Metade?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Encostei a mão no peito dele e a subi para o pescoço, mas
mesmo tendo feito isso mais vezes do que seria capaz de me lembrar essa era a primeira
vez que eu não vestia nada, nem roupa, nem fantasia de amizade, era eu e eu queria
tudo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Eu sei onde eu tenho, vim arriscar o que eu quero. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Você quer que eu te beije?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Eu sorri, peguei a mão dele que ainda estava no meu rosto, porque
alguma coisa me disse que ela estava ali também fazendo um esforço hercúleo para
não tocar em outro ponto nu de pele e desci de vagar para o seio a mostra. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Por favor me diz, o que é isso? – ele fechava os olhos enquanto
encostava a testa na minha<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- É coragem<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Eu te quero garota, eu te quero. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Eu também, eu sussurrei e o beijo foi um negócio que
deveria ter sido doce e tranquilo porque eram pessoas que tinham passado mais tempo
juntas do que irmãos siameses, mas a liberdade daquele toque finalmente sem
amarras incendiou os dois.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E dali em diante não tinham mais palavras, só sussurros, e
alguns gemidos, segundo dizem parece que houve gritos também. <o:p></o:p></div>
<br /><br />
<br />
2019 acaba de começar, vem.Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-76918406057524239392016-09-29T20:21:00.001-07:002016-09-29T20:21:30.360-07:00Tomando o norte<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt;">Me dou o prazer de
fechar os olhos e me devolver para tua cama. Às vezes até sem esperar quando
dou por mim, estou lá de novo, estou te ensinando a se libertar das amarras que
eram tuas roupas. Estou te mostrando como funciona a química das peles. Estou
lá nos teus lençóis com cheiro de gozo, lambuzado. Quando menos espero já fiz
uma viagem no tempo e sou capaz de ressentir novamente tua língua divagando sobre
a minha pele.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Abro os olhos e o
vazio, dói, os fecho novamente e te busco nesse lugar mágico onde estas agora.
Esse lugar mágico onde és só minha, tua língua, tua pele, tua boca, teus
cabelos, tuas unhas tudo em ti de novo é para mim uma fonte inesgotável de
doçura. Até quando me permitias meus minutos de vilanias, eras para mim. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Volto no tempo, volto o
mundo, volto o amor, mas o amor não volta. Há em mim, sob a pele, um desejo sem
tamanho pela frequência da tua cama, e tua cama, cadê? Onde está? É quase como
querer voltar para casa dentro de um sonho repleto de brumas, eu sei o caminho,
eu sei o sabor, o cheiro, mas cadê? Onde está a casa? Onde posso enfiar meus dedos
e aquecê-los? Cadê o conforto da tua casa onde eu posso ser eu, e vibrar a cada
minitoque, a cada expectante sorriso enviesado teu?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Esses momentos em que
te volto, te trago e te sonho, são poucos do quase nada que a gente viveu. Do
que a gente escondia do mundo, do mundo que não nos permitia. Gosto de me
esconder ainda do mundo e buscar na minha pele cada marquinha de língua que
deixastes e até de dentes também, lembro os lugares sensíveis que descobristes,
estremeço. Gosto de tocar meu corpo, lembrando os caminhos da mão que me
fizeste percorrer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sei que eu ainda não
sabia exatamente o que fazer. Mas na minha ignorância, brincaste bem mais do
que eu permitiria. Tenho que abrir os olhos. Sei que tudo é passado e quando
fecho os olhos sonho uns futuros meio loucos de a gente de volta de mãos dadas
pelo mundo, mandando todos os porquês e diferenças à merda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Tenho que abrir os
olhos, a hora vai bater, o tempo vai chegar, a minha casa, onde eu me enfiava e
cabia perfeitamente se perdeu na bruma, o hoje é um lugar inadequado, mais
inadequado do que a cama em que a gente descobria as partes do corpo do outro.
Mais inadequado do que saber que toda a tua família estava lá embaixo
assistindo TV. Ou que em minutos nos chamariam para o jantar. Mais inadequado
do que o banheiro da escola para onde a gente fugia tentando manter os outros
longe, se esconder dos olhares juízes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O conforto não era
nosso maior prazer, talvez o que mais nos impulsionava era saber que alguém
poderia ver, nos intuir, nos sacar, ver nos nossos rostos as intenções sacanas,
nossos risinhos de promessas. Eu sabia que ninguém ao nosso redor era burro a
ponto de não perceber o que fazíamos ou como nos entretínhamos naqueles
infindáveis trabalhos de fim de semana, naquelas infindáveis horas de
descobertas por autores e bandas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Eu sei que meu pavor
maior, embora muitas vezes cogitado, embora muitas vezes descartado, era sermos
descobertas. Foi aquele riso cínico da tua tia, como quem diz entender o que
acontecia, que me fez responder feito gato acuado. Sim, eu pirei, sim a culpa é
minha. Sim, eu fugi ainda que em nossas promessas eu parecesse a mais corajosa
de nós. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sei que hoje há um
cerco ao teu redor, primos, tios, irmãos, te buscam, te trazem, me afastam com
olhares, mas não podem me impedir de te encontrar quando fecho os olhos e eu
fecho os olhos com frequência, muita frequência. Fecho os olhos sozinha, fecho
os olhos com ajuda, qualquer ajuda, de um xaropinho qualquer e até com as
recentes pedras baratas que me fornecem sem perguntas, o importante mesmo é
fechar os olhos, te manter perto de mim. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">De olhos fechados eu
vejo os teus seios, fecho os olhos para beija-los e sentir teu gosto, fecho os
olhos para agarrar tuas coxas, fecho os olhos para pressionar meu joelho entre
as tuas pernas e te sentir abri-las, quentes, molhadas. Fecho os olhos e
mordisco a tua barriga, fecho os olhos e sinto o gosto do teu corpo e entro em
transe de olhos fechados nos teus estremecimentos, eu gozo agora quase sempre
sem ninguém, de olhos fechados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">É pra ti cada gozo, é
pra ti cada sonho. Futuro não existe, apenas o prazer de agora em fechar os
olhos.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Marcia Lima<o:p></o:p></span></div>
Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-30856921704876570522015-02-03T20:40:00.000-08:002015-02-03T20:40:51.524-08:00Olhos de farol<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Remexo num sono inquieto, reviro e volto ao mesmo lugar.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Uma sensação de frio e desconforto me toma, como desejos insatisfeitos. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
No frio de abandono, que o corpo treme, preciso de satisfação.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Mãos e pés tateiam em busca de algo, o vazio ao lado na cama se
agiganta.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjj359yzyZY3X0N1DZ-Yn6tLNoxQp47KBRWXbItmUTUWBioJ3dMLFBX5B3Qz3rJ8FWVZ4XzEvDzBa4jbaTqEHMl0p-laMvSmPW1P4s631Sjb0IPgLYJttDwRpCRLUXBXgB1MS9OYqxjYBFM/s1600/mulher_deitada_escuro_2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjj359yzyZY3X0N1DZ-Yn6tLNoxQp47KBRWXbItmUTUWBioJ3dMLFBX5B3Qz3rJ8FWVZ4XzEvDzBa4jbaTqEHMl0p-laMvSmPW1P4s631Sjb0IPgLYJttDwRpCRLUXBXgB1MS9OYqxjYBFM/s1600/mulher_deitada_escuro_2.jpg" height="222" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
O quarto escuro parece um poço sem fundo, eu não consigo respirar, não
encontro o ar. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Algo dentro de mim precisa sair, ou pior, desejo alguma coisa externa
que não me pertence. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Acender a luz não adianta. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Procurar o telefone me atormenta.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Não quero e quero ainda mais.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Chego a sentir o cheiro do meu sonho/desejo espalhado pelo quarto. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Não posso, não devo. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Começo a me odiar, por desejar tão profundamente algo que pelos cálculos,
pelas análises frias, nunca bate, nunca fecha. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
O corpo grita por uma satisfação que conscientemente não preciso.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
O suor frio que escorre pelas costas e molha a testa provoca calafrios, como em abstinências.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
O telefone grita. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
É como se ele tivesse ouvido o chamado, como se o meu desejo vibrasse na energia dele também.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Nem respiro, nem penso.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Vem.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
O vazio se acaba, o desconforto se esvai. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
O desejo todo vira dúvida: Quero/não quero. Devo/não devo. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Mas o corpo, a pele, não tem juízo. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Ele veio! </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Me forço a parar de pensar quando percebo que não sei o que fazer, como
agir. Sei que as palavras não terão sentido. Ficaram presas no limbo entre o
que desejo e o que sinto, o mais provável é que causem mais confusão.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
O corpo não pensa. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
A luz acesa me delicia, como se só os olhos dele pousados em mim, me
tornasse visível. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Um arrepio, uma satisfação ainda que apenas de expectativa. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Eu sei que o chamei. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Eu sei que o quis, quis tanto que ele ouviu e
veio, mas ao mesmo tempo estou petrificada, sem ação.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Por onde começar? O que fazer?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Sorrir?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Tenho consciência de não saber que mensagens meus olhos emitem, estou
atordoada com tudo que sinto e tudo que me trava.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Acho que ele sabe, que entende. Não sei.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Ele se aproxima e busca a minha mão, me traz para os braços.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Estou toda e completamente vazia de ações. É estranho e difícil não ter ações, não pular, não exigir, não rir. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Mas mesmo estranhando, ele me conhece! Ele me conhece!</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Ensaia uma dança, move nossos corpos, começo a me largar nele, vou
destravando ao seu toque, relaxando ao contato de sua boca.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Ele me conhece!</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Dançamos uma dança nossa, com a música que só existe em nossa cabeça.
Sua mão escorrega pelos braços, sua boca desce pela pele visível do colo. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Inspiro, expiro.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Sou essa mulher.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Sou essa que derrete aos toques.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Suspiro. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Esqueço todos os tormentos. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Ele está!</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Sou agora uma massa movida por uma música que não existe, carregada pelos
toques que me acedem, me revivem, me resgatam da escuridão.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKLoFXWaeOFgarmBvQ-UaO0zITb7KQUYYft2jCpmeS0b5Y6RybNIqTi35td27PF__WgciycP5k4R4FfaPtS4ssul1THFhoG0r1dD-BKeySbzwxYAnFQW1QFvumqIkpSZ2MVoo_gr_cqmtQ/s1600/olhodeluz.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKLoFXWaeOFgarmBvQ-UaO0zITb7KQUYYft2jCpmeS0b5Y6RybNIqTi35td27PF__WgciycP5k4R4FfaPtS4ssul1THFhoG0r1dD-BKeySbzwxYAnFQW1QFvumqIkpSZ2MVoo_gr_cqmtQ/s1600/olhodeluz.jpg" height="150" width="200" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Reencontro o ar na boca dele. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
A dança nos leva à cama, devagar.
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Não há pressa, nem palavras.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
O encontro é de encaixes, a mão alcança os lugares a que pertence. As
carnes tem a marca e se entregam às mãos que a tocam. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Sinto, desejo, quero. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
A cama já não é mais assustadora.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Existe oxigênio para qualquer ação mais enérgica.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
O quarto finalmente está iluminado.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
São os olhos dele que acendem tudo ao redor. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Marcia Lima</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
03/02/2015 </div>
Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-50753311813942741172014-12-13T18:32:00.003-08:002014-12-14T11:36:41.923-08:00Voo no tufão<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No meu
primeiro dia lá, fui recebida com um “nunca vi você por aqui” e sorrisos
efusivos de boas vindas. Nesse dia, ele esqueceu a bermuda e o agasalho na
praia. Disseram que quem esquece é porque quer voltar. Eu sorri sem graça.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No segundo,
ele veio buscar suas roupas e finalmente aceitou, o sempre recusado, convite
para almoçar, ficou por aqui a tarde inteira. Depois que ele foi embora
encontramos um sei lá o quê da prancha largado no jardim. Eu sorri meio
surpresa, meio feliz e os donos da casa se entreolharam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No terceiro
dia, ele chegou sem graça. Numa espécie de consenso geral era eu quem deveria
lidar com ele, aceitei o papel. Estendi o equipamento, ele o pegou da minha mão
e caiu no mar. Muitas manobras depois, voltou, ao que tudo indicava nossa
companhia lhe era agradável.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quando ele
foi embora, revirei nossos pertences, o jardim, a casa. Dessa vez, nada foi
propositalmente largado, nenhuma desculpa mais. Apenas eu, perdida no meio
daqueles sorrisos e olhares, e um certo desalento me roubou o riso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ao raiar do
novo dia, sem nenhuma esperança olhei o caminho da praia e lá vinha ele,
sorriso torto, meio amarelo, que encontrou o meu, divertido, aquecido,
esperançoso. Pus as mãos nos quadris "O que você esqueceu dessa vez?"
Era pra ser uma brincadeira. Virou um desafio. Se aproximou do meu degrau na
escada sem subir e disse me olhando nos olhos "Você".<br />
<br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Depois
disso, era um tal de esquece roupa, que tive que abrir uma grande espaço para
as roupas que ele largava, mas o que ele mais esquecia era a hora de ir embora.
Ia ficando, e quando partia, voltava rápido. Quase nunca lembrava de levar tudo
que era seu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Foram noites
a luz da lua, sob as estrelas, fins tarde de um tempo sem pressa, de areias
correndo livre de ampulhetas. Um tempo de riso em que tudo era possível até
algo tão grande como amor e futuro. Ainda que a liberdade do que acontecia não
permitisse conversas sérias, ou o fato de ser um tipo de férias eternas, não
permitia saber quando e onde ou como obter segurança.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Mas não se
podia esperar muito de alguém tão esquecido, movido, quase sempre, pelo vento.
Chegou o dia em que ele teve muito trabalho e se esqueceu de voltar e eu sempre
com o olho comprido no caminho da praia, com o olho comprido no céu em busca de
condições de tempo em que ele pudesse navegar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Não chegou o
tempo e o tempo mesmo até passou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Dessa vez
ele tinha esquecido, mas era de voltar.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nunca mais
olhar o mar e ver pipas voando despertou o mesmo riso. <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-20267901311791208682014-03-18T10:21:00.001-07:002014-12-13T10:45:32.795-08:00O medo Grand'Hotel<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">Ela debatia-se na cama, suando, ansiosa. A cabeça dizendo não e
sussurros incompreensíveis escapando dos lábios. Ele acordou assustado. Chamou.
Sacudiu-lhe o corpo e ela deixou escapar um grito: "caminhão, cuidado".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">- Acorda, acorda Laura. É só um sonho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">Ela abriu os olhos, ainda que não parecesse realmente acordada.
Agarrou-se a ele como se estivesse tendo uma visão:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">- Eu tenho medo do caminhão, por favor, cuidado com o caminhão - uma
mistura de sussurro com choro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">- Laura, não tem nenhum caminhão. Estamos em casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">Não que fosse exatamente a casa deles, de ambos, estavam no apartamento
dele. Era apenas a terceira vez que ela dormia lá e ele achou que talvez por
isso ela pudesse estar assustada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">Ela puxou o ar, fundo. Parecia mais desperta agora. Ele abraçou mais
forte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">- O que você estava sonhando?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">Deitou-se e a trouxe junto ao peito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">-Não lembro direito. Por quê?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">
- Parecia bem ruim, você estava realmente assustada. Falou em caminhão, pra eu
ter cuidado.<br /><br />
</span><br />
<span style="font-family: inherit;">Fora uma daquelas ativas e quentes madrugas. Daquelas que parecem querer provar que nenhum caminhão de várias
toneladas poderia atropelar tanta paixão.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">- Falei?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">- Sim, não consegue lembrar?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">- Não, ela começou a cheirar e beijar o peito dele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">Ele reagiu automaticamente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">- Nossa, não sabia que pesadelos poderiam ser excitantes - e riu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">Ela continuava beijando e roçando o corpo no dele:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">- Vai ver eu tenho medo que um dia o caminhão atropele a paixão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">Ela riu alto e continuou o que estava fazendo. Parecia muito disposta a
esquecer o que quer que tivesse sonhado. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 11.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit; line-height: 115%;">Ninguém lembrou do sonho duas semanas depois,
quando uma grande van de entregas de cervejaria perdeu a direção e avançou na
contramão sobre a faixa de pedestres. Três pessoas foram gravemente
atingidas. Só ele não sobreviveu.</span></div>
Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-89609486639191900562013-08-07T10:02:00.000-07:002013-08-07T10:02:10.566-07:00Assassínios<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">- Eu
o matei - ela gritou, ao mesmo tempo, que bateu o copo no balcão - Eu o matei -
repetiu baixinho quando intuiu que todos já a olhavam em busca de uma
explicação. Os amigos encararam o último relacionamento dela. Ele observava a
cena por cima do taco de bilhar, que tinha parado no meio de uma jogada. Levantou
o corpo e esperou ela terminar o showzinho. Uma coisa que ele nunca esperaria
dela, sempre tão calma, tão pacífica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><br />
- Eu o matei - a frase agora cuspida declarava que o nível alcoólico já não
permitia total controle dos lábios - Eu não agüentei mais - a raiva deu lugar
ao choro - Eu precisava me livrar dele. Não suportava mais essa indiferença.
Essa mania de me fazer esperar. Essa loucura de me sentir coisa, de achar que
eu sempre estaria disponível, que eu sempre podia esperar por sua boa vontade,
seu tempo, disposição. Cansei de não ser prioridade. Eu quis que ele sentisse
dor. Eu quis... – mais lágrimas – Eu o fiz sangrar, eu fiz com que ele conhecesse
como era a dor de esperar indefinidamente pela atitude de alguém, pela ação,
carinho, afeto. Mostrei a ele. Ele morreu olhando nos meus olhos. Eu me vinguei!
<br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Algumas
amigas tentaram se aproximar para evitar um vexame maior. Ela levantou as mãos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">- O
primeiro tiro foi o mais difícil. Foi o mais trêmulo. Os outros dois foram
escape perverso. O restante da munição foi só arrependimento mesmo. Eu o matei.
Matei tudo que ele significou na minha vida. O abandono, a espera, a impotência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Um
arrepio subiu pela espinha de todos no bar, como se naquele lugar quente fosse
possível um sopro de vento gélido, como se só agora eles tivessem conseguido
entender coletivamente o sentido do que ela estava contando. Os amigos voltaram
a olhar para ele em perguntas mudas, dessa vez observaram um desalinho de
cabelo, meio nada a ver com sua aparência quase sempre impecável.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Ela
secou o copo, trêmula - mas ele nem imagina como eu morri junto - as lágrimas
saindo aos borbotões - Não sei como consegui sair de lá, não sei como estou de
pé aqui. Não sei como ele tem coragem de jogar bilhar e falar com todo mundo ai
como se eu não tivesse lhe enfiado seis tiros nas fuças!! – raiva, lágrimas,
cuspe. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><br />
O silencio no bar era absoluto ninguém percebia nem a falta da música alta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">- Eu
o matei, porque só assim eu teria certeza que havia um motivo concreto para ele
não responder minhas ligações, para não retornar minhas mensagens. Merda, eu o
matei por que o amo tanto, tanto, que se tivesse que viver sem ele que fosse
definitivamente. Eu não tinha mais coração, para esse ir e vir, esse não
aceitar. Esse querer pela metade. Eu o matei - as palavras escapando da boca
junto com mais saliva e dessa vez meio tingidas de sangue.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">- Vocês
conseguem entender isso? Não, nunca entenderão. Em todos os nossos anos de
amizade, nunca me entenderam. A gente vinha para cá e a minha única certeza em
todas as semanas em que estávamos juntos era que aqui nos encontraríamos. Aqui
beberíamos e, com sorte, eu o levaria bêbado para casa. Quantas vezes vocês não
me olharam com pena?<br />
Digam? Não tenham mais pena de mim. Eu não sou mais digna de pena. Olhem para
ele - ela apontava para a mesa de bilhar - Seis tiros nas fuças e vem jogar
como se nada tivesse acontecido. Não aconteceu, não é?<br />
Eu não tenho coragem, não é? Não tenho amor próprio, sangue nas veias, não é?
Olhem para ele. Olhem a minha coragem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><br />
E num reflexo instintivo todos os olhos se voltaram para o rapaz próximo à mesa
de bilhar o mais galanteador da turma, o mais boa-praça, o que menos levava a
vida a sério, além de bagunça dos cabelos, via-se agora uma palidez acentuada
no rosto. Talvez o conhecimento do quanto a ferira finalmente lhe causasse
algum susto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><br />
- Vocês acham que foi fácil? Vocês acham que matar alguém é fácil? Não, não é.
Vocês acham que é só apontar a arma pra quem te tortura e apertar o gatilho? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Não,
não é. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Ainda
mais quando o alvo é a sua vida toda. Quando você também é o alvo, quando você
tem a tamanha consciência de que as balas, as seis, não entraram nele, porque
ele nunca sentiu exatamente nada que me dissesse respeito. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Ela
voltou a encher o copo, voltou a levar bebida à boca. Voltou a expelir saliva.
Quem entrasse agora no bar não entenderia um grupo de pessoas hipnotizadas
olhavam de um lado para o outro do bar como se acompanhassem uma partida de tênis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><br />
- Vocês acreditam que ele nem correu? Nem teve medo? Acho que atirei mesmo pela
afronta. A última. A última afronta foi esse risinho que ele tem na cara, esse
risinho de nunca acreditar <st1:personname productid="em mim. Tá" w:st="on">em
mim. Tá</st1:personname> ai. Seis tiros, seis buracos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Os
amigos voltaram a olhar em direção a mesa de bilhar, ele agora estava com as mãos
na barriga, numa postura de dor, sangue escorria pela roupa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">- O
que foi que você fez? - ele sussurrou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><br />
- Eu o matei - ela sussurrou em resposta - e morri também. <br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Foi
quando voltaram os olhos para onde ela estava e ela também tinha sumido. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt;">José
entrou correndo no bar onde a turma da faculdade se reunia todas as sextas há
quase quatro anos. Tinha uma notícia terrível para dar: O casal mais
problemático entre eles estava morto, a polícia não sabia ao certo, mas parecia
crime passional.<o:p></o:p></span></div>
Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-77308345393179256192013-08-04T19:51:00.004-07:002013-08-06T10:35:07.834-07:00Compreensão <div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 13.5pt;">Sempre estou disposta a entender, mas, por favor, faça questão de ao
menos tentar explicar. Porque, se eu tiver que adivinhar, tenha certeza não
será uma versão boa pra você.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 13.5pt;">Pelo mesmo motivo que mães quando acordam e não encontram seus filhos em
casa, elas não pensam que eles estão na balada se divertindo. Elas acreditam logo
que eles correm algum risco.<br />
Não sei que gene é esse feminino que tende logo a crer no pior, mas sei que
nasci com esse defeito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 13.5pt;">Gosto quando você se esforça para me explicar as coisas, não pela explicação
ser necessária. Mas porque nessa hora a sua atenção é toda minha, eu sei que você
esta tentando imaginar qual explicação vai me convencer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 13.5pt;">Apesar disso, detesto quando você só me dá atenção nessas ocasiões. Às vezes
me sinto tão invasiva quando teu silêncio se prolonga e eu não sei exatamente o
que está acontecendo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 13.5pt;">E no fim de tudo pode nem estar acontecendo nada... E esse maldito senso
de controle feminino me faz criar milhões de histórias absurdas.<br />
Não, não sei como eu cheguei até aqui com tantas dúvidas e incertezas, pra
dizer a verdade nem sei como você me aguenta com tanta cobrança. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 13.5pt;">Posso até pedir desculpas pelo rompante agressivo, por ter chamado sua
prima de vaca e sua ex de puta. Sei que posso me arrepender de tudo, mas sei
que todo esse arrependimento não vai ser capaz de desfazer o que eu fiz. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 13.5pt;">Mas se você tivesse me dito, se você não tivesse essa maldita mania de
me esconder as coisas, e se tivesse me contado que esse era um jantar de
noivado, talvez todos vocês agora pudessem me ouvir e ter pena de mim. Eu sou tão
patética. Mas não você fez questão de me esconder que “seu evento” de família
era a celebração de um compromisso, mas que nem era “seu” compromisso. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 13.5pt;">Agora nenhuma desculpa vai fazer vocês cuspirem o cianureto da sopa de
entrada desse lindo jantar de noivado, e posso gastar todas as lindas palavras
do meu vocabulário arrependido, mas nenhuma delas vai me salvar quando a polícia
chegar com a ambulância que eu chamei quando percebi o engano. </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-23627780255507644392013-06-26T20:30:00.000-07:002013-06-26T20:30:42.147-07:00Pesadelos<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Não havia jeito daquele sentimento abandoná-la, era como uma compulsão,
uma espécie de loucura, neurose mesmo. Era só o sol se pôr, e o suor começava a
escorrer, muito mais do que em qualquer dia quente. Nunca soube ao certo o dia
exato em que começara a ter esses temores. Mas sempre que a noite caía começava
a suar e temer a hora de ir dormir. Só que o problema maior não era o medo. Se
fosse poderia correr para a cama dos pais e se sentir protegida. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Mas não, seu problema maior era enfrentar e esconder esse medo. Já era
quase adulta, tinha nove anos, não achava nem um pouco justo que toda a família
percebesse seu terror de dormir. Afinal, eles já tinham seus próprios
fantasmas. Isso ela podia perceber bem, pelo modo como a mãe, às vezes, gritava
com ela, ou pela impaciência com a qual o irmão mais velho entrava e saia de
casa, e também pelas coisas incompreensíveis que falavam, que a faziam pensar
em cadeia e tortura, palavras quase sem sentido, mas pelo tom sabia que não era
bom.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhI_3ywDR_EBfjzHNohYpP-dkii7I4GIJgsNnGylxujpr7El5DHxyCI3VkQeKKyhNbH-7u5sq7TIJa-EfmpwktY9iwO45ZDCXCvL-03PiOAm9mlU_7IDe1V1LhxVdN36vfagBpvTZiwEnlO/s1600/sangue.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhI_3ywDR_EBfjzHNohYpP-dkii7I4GIJgsNnGylxujpr7El5DHxyCI3VkQeKKyhNbH-7u5sq7TIJa-EfmpwktY9iwO45ZDCXCvL-03PiOAm9mlU_7IDe1V1LhxVdN36vfagBpvTZiwEnlO/s1600/sangue.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Era sempre à noite que via o pai sair para a “reunião”. O que fazia sua
mãe chorar e pedir, chegando até a implorar algumas vezes, que não fosse. Mas
ele tinha convicção:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- É preciso fazer alguma
coisa – ele sempre repetia antes de sair. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ela sempre lembrava o tempo em que as saídas dele não eram tão
dramáticas. Talvez tivesse a ver com a greve. A greve que segundo o pai tinha
que acontecer. Ela o ouvia falar sempre: “Assim, não dá mais para continuar a
viver”. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Mas antes, antes o pai da Carol não tinha morrido durante a noite. Antes
a polícia não tinha invadido a casa da Carol e atirado no pai dela. O pai da
Carol era um senhor barrigudo que sempre vinha em casa beber com o pai dela. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Tá certo, ela não era muito amiga da Carol, achava a Carol meio bestinha
com seus cuidados com o cabelo e o sutiã que de nada servia, mas que adorava
exibir. O problema é que não achava certo que mesmo a menina bestinha tivesse
acordado uma noite com os gritos da mãe e que tivesse entrado no quarto e visto
os miolos do pai espalhados pelo lençol. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Então percebeu, foi só a partir desse relato que começou a temer as
noites, a perceber os rumores diferentes em casa, a tensão da mãe e do irmão.
Numa associação absurda achava que era só durante a noite que coisas ruins
aconteciam, que homens maus invadem casas e matam as pessoas que amamos. Então
sempre que a noite caía, as mãos começavam a suar, a testa, os pés. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Tanto suor a fazia vítima, os pés suavam tanto que sempre escorregava na
chinela. Costumava cair, pois a chinela, molhada demais, impedia que se
mantivesse sobre ela. A cada queda, um escândalo, ralava os joelhos, via sangue
e chorava. Chorava mais pelas lembranças que o vermelho evocava do que pela dor
que lhe causava as palmadas da mãe que a mandava não correr, ou o sabão e o líquido
vermelho que ardia e a mãe sempre punha nas feridas. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
De repente, o medo começou a ficar pior. Uma manhã já tinha medo que a
tarde chegasse porque em seguida a noite viria. Outra vez deixou todas as luzes
acesas e mesmo assim não conseguia dormir, ouviu barulhos na porta e pulou da
cama. Colou os ouvidos na parede e o ouviu entrar balançando as chaves como de
costume. Podia voltar para a cama o pai estava de volta a casa. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A cada dia ficava mais incapaz de controlar o suor e o medo. O terror e o
desespero. Tinha pesadelos com arrombamentos, com botas, soldados e sangue
espalhado em lençóis brancos. Um dia a mãe levantou-lhe o rosto e perguntou se
ela não dormia mais. Ao olhar a mãe
percebeu que não era a única a não dormir. Tinha medo, mas não era só ela que
tinha medo. Todos tinham, o pai também tinha. Sentia isso, quando todo dia ao
chegar em casa a abraçava com mais força. Como se despedisse um pouco a cada
dia. Ela sempre ouvia aquelas conversas que a assustavam. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnh4x2nRyuDc5ufRXzBj3hJsvnDXvNv_w2Xswb4vI9tEL_xQDBsiGxkdkmz60swABz8S7sfsEUP7_eJvRsObD_zjUYYeVrUcDMAz-_HJy0rx9ntsukxcChFPSKkzxJtOORCIeAys2FWSZT/s1600/sangue2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnh4x2nRyuDc5ufRXzBj3hJsvnDXvNv_w2Xswb4vI9tEL_xQDBsiGxkdkmz60swABz8S7sfsEUP7_eJvRsObD_zjUYYeVrUcDMAz-_HJy0rx9ntsukxcChFPSKkzxJtOORCIeAys2FWSZT/s1600/sangue2.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Até que uma noite acordou com gritos e som de coisas sendo quebradas,
tiros. Mais gritos. Alcançou o quarto dos pais e os viu. Viu o irmão mais velho
jogado no chão desacordado, o pai morto na cama, o sangue, mas não era mais um
pesadelo. Ou então era um pesadelo com cheiro, e dor, porque quando tropeçou no
tapete pôde sentir e muito a dor no pé.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Era real. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ela não iria acordar e ficar aliviada por ter que passar mais um dia
esperando por aquilo. Não, estava acontecendo. Sentou num canto do quarto e
começou a rir. Rir, de alívio, de felicidade mesmo. Não havia mais o medo de
matarem seu pai, ele estava morto. Não havia mais o medo de invadirem a casa,
ela estava arrombada. Estava lá. Tudo tinha terminado. Por isso ela ria. Ria
com tanta vontade, como já algum tempo não fazia. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ria. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Márcia Cristina Lima</div>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> 08/08/2001</span>Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-63806056893468073632013-03-24T17:03:00.000-07:002013-03-24T18:18:37.401-07:00Solução na moda <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixo-o3KC1x9CANbbIeodXTT2mIlpaQjR-I8q52GAFWjNiqbTeBgqKR48oOLEQu7j-zFRTPGoEjh8I3lgQpZJL46cd6RHNNpA6Gvwtwq_XWzr2zlsiJMFr7fyyKQpnSjcMuHhuv6Lmpl9yX/s1600/casalbeijosmaior.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="184" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixo-o3KC1x9CANbbIeodXTT2mIlpaQjR-I8q52GAFWjNiqbTeBgqKR48oOLEQu7j-zFRTPGoEjh8I3lgQpZJL46cd6RHNNpA6Gvwtwq_XWzr2zlsiJMFr7fyyKQpnSjcMuHhuv6Lmpl9yX/s200/casalbeijosmaior.jpg" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 13.5pt;">A saudade é tanta que eu toparia te encontrar só para ter certeza que o
amor morreu. Mas se ao te ver, percebesse que aquele riso frouxo que me
provocavas vem à tona, o que eu faria?<br />
O que eu faria se ao te ver meu coração louco me fizesse esquecer tudo o que me
fez te abandonar e fizesse eu doidamente me aproximar demais e te tocar?<br />
O que eu faria se ao te tocar minha pele incendiasse e eu pusesse toda a minha
cautela no lixo e me jogasse no teu corpo, só para ser feliz breves momentos de
novo?<br />
Mas o que eu faria se ao levantar da cama, o teu risinho cínico me dissesse: “não
me negue, você não me resiste”?<br />
O que eu faria com os dois meses de mantras de autoafirmacão? O que eu
faria com os três meses de terapia? Seis de casa nova, cabelo novo, corpo novo?
Como eu encararia o fracasso de perceber que posso mudar toda a minha vida, me
tornando quase outra pessoa, mas não consigo mudar o que eu sinto por você? <br />
Como eu encararia essa fraqueza?<br />
Talvez olhando pelo meu prisma, você entenda o presente que eu te trouxe. Talvez se você percebesse como eu percebo a inutilidade de seguir vivendo quando sempre cairei
na mesma armadilha bastando um simples sorriso teu. Talvez eu faça você entender
com alguma atitude drástica esse desespero que me toma quando não consigo
simplesmente mandar em mim e me sinto completa nos teus braços. </span><span style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 13.5pt;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 13.5pt;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; line-height: 115%;"></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; font-size: 13.5pt; text-align: center;">
</div>
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; line-height: 115%;">
</span>
<div class="separator" style="clear: both; font-size: 13.5pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; line-height: 115%;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikOgXMGQH47YhDLDHuYMhVRQQSVl_khQDHXN8qUOy4Zqi7dCHItQ0H7YJshHROBiP5E7ZFHAuF913fkdLyG5to-hfbzq1kijlGUHorpd0qngZ0NgfOnEg1h-QxOXihUT5mTRCVsppPpJwp/s1600/leitederramado.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikOgXMGQH47YhDLDHuYMhVRQQSVl_khQDHXN8qUOy4Zqi7dCHItQ0H7YJshHROBiP5E7ZFHAuF913fkdLyG5to-hfbzq1kijlGUHorpd0qngZ0NgfOnEg1h-QxOXihUT5mTRCVsppPpJwp/s200/leitederramado.jpg" width="200" /></a></span></div>
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; line-height: 115%;">
<div style="font-size: 13.5pt; text-align: left;">
<span style="line-height: 20px;">Ahhh mas meu orgulho bobo precisa de uma resposta. Quem sabe teu sorriso cínico murche ao perceber que nesse lanche pós-coito, nessa reposição de energias após-recaída. Você seco, sedento, nem tenha percebido o gosto cáustico do Ades Maçã no teu copo. E quem poderá me acusar de qualquer coisa se nesse motel barato, barato como você sempre tratou meu amor, só tem isso pra beber?</span></div>
<div style="font-size: 13.5pt;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<span style="font-size: xx-small;">fotos: internet</span><br />
<div style="font-size: 13.5pt;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div style="font-size: 13.5pt;">
<br /></div>
</span><br />
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span>Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-8541142133682924182012-11-12T16:20:00.002-08:002012-11-12T16:20:38.254-08:00Contra Monstros<div class="MsoNormal">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjerWDgD5yCe_P__pSTJ0gU8aGptNVSws7V9H_verP85o097T1nPcStJT1lGgkFsSsg5VSaqS0FELASmECgwaorbKSvpqrtXxT_cKK9P_h95-vmTK0mjsfNEMgQW8lRvKZrro9vwn3kWT0e/s1600/vazo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjerWDgD5yCe_P__pSTJ0gU8aGptNVSws7V9H_verP85o097T1nPcStJT1lGgkFsSsg5VSaqS0FELASmECgwaorbKSvpqrtXxT_cKK9P_h95-vmTK0mjsfNEMgQW8lRvKZrro9vwn3kWT0e/s1600/vazo.jpg" /></a>Saiu do quarto, meio sem ver por onde andava, olhos
inchados, chateada. A casa estava semi-arrumada, semidestruída, semi-arrombada,
tinham levado quase tudo: TV, som, livros, tinha sobrado um monte de destroços,
inclusive um coração. Andou pelo corredor com marcas visíveis de briga. Nunca
tinha feito isso, nunca tinha escancarado tanta raiva de uma vez só. Mas dessa
vez não teve chance, o Monstro dentro dela gritou tão alto que a ensurdeceu.
Teria chance um dia contra ele? Lutaria um dia contra o Monstro que a tinham
feito conhecer ainda menina? Foram anos fazendo o Monstro se calar, foram anos
sendo racional, cordata, certinha.</div>
<div class="MsoNormal">
A fúria tinha ultrapasso os limites do bom senso e ao chegar
à cozinha pensou seriamente em tratamento médico. Conseguiria novamente manter
o Monstros sob controle? Lagrimou mais uma vez, não pelo que tinha feito, mas pelo que tinha
deixado de fazer. Pela primeira vez tinha deixado de ouvir, mas sabia o que
viria, conhecia todas as desculpas, as quais não suportaria ouvir. Sempre
evitara mesmo ouvir desculpas. Comprimido, água. Precisava de alguma coisa para
aplacar aquela raiva em forma de bili que a fazia querer por mais uma vez os bofes
para fora. </div>
<div class="MsoNormal">
Abriu a porta do quintal, não queria olhar para o que tinha
feito da própria vida. Não queria se encarar de frente porque era um rosto que
ela tinha visto a infância inteira. O rosto que se prometera não ter. A mãe
quebrando tudo em cima do pai. </div>
<div class="MsoNormal">
Pensou em mudança de casa, de vida, mudança de tudo. Fechou
os olhos, mais lágrimas, não conseguia contê-las assim como não conseguira
conter o Monstro. Seria ela assim também?</div>
<div class="MsoNormal">
Fechou os olhos, o sorriso dele brilhou a sua frente, as
brincadeiras, os carinhos, a maneira de colocar a barba sempre abaixo da orelha
dela, as lágrimas aumentaram. Um suspiro fundo, uma vontade de morrer. Percebeu
que o remédio começava a fazer efeito. </div>
<div class="MsoNormal">
Saiu em direção à cama, não pretendia levantar de lá e
encarar o mundo tão cedo. Arrastando os pés, sem coragem, sem vida. Tão
diferente dela mesma. Esbarrou em alguma coisa. Levantou a vista, era ele,
olhos vermelhos, chateado. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbwcG__fEuHBLn9lZJ8YC1razL_aBnnnFQZNooi2mE426r6T1xXSs27yFhCFTd6i5zliw2CIQHYWOVVYQGmqFDn6z2u0YzqpCJwGzNZ_7Y_4IyY-ycdrz-_Z4OmbTBhSfPN1uk7ohDgSwP/s1600/celular.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbwcG__fEuHBLn9lZJ8YC1razL_aBnnnFQZNooi2mE426r6T1xXSs27yFhCFTd6i5zliw2CIQHYWOVVYQGmqFDn6z2u0YzqpCJwGzNZ_7Y_4IyY-ycdrz-_Z4OmbTBhSfPN1uk7ohDgSwP/s1600/celular.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
- não pense que você vai fazer esse showzinho, abrir a porta
e me mandar embora... </div>
<div class="MsoNormal">
Ela estremeceu, calada, ele era maior, bem maior, que ela.
Nunca tinham brigado, a vida tinha sido discordâncias esquecidas em piadas, ou
conversas sérias. Se ele fosse brigar, o Monstro voltaria? Ela respirou fundo. </div>
<div class="MsoNormal">
- o que você quer mais? Já levou tudo!!</div>
<div class="MsoNormal">
- Não levei, não. </div>
<div class="MsoNormal">
- O que quer tenha sobrado mando pra você depois. Não quero
mais conversar – o medo do Monstro voltar, ou mesmo vomitá-lo no corredor era
maior. O efeito do remédio foi-se. </div>
<div class="MsoNormal">
- O que quero você não vai mandar, na verdade, é
desnecessário mandar qualquer coisa. – ele não brigava mais, tentava apaziguar
quando tudo dentro dela parecia feito de ácido, uma bomba prestes a explodir. </div>
<div class="MsoNormal">
Ela respirou fundo, ele percebeu: </div>
<div class="MsoNormal">
- você está se sentindo mal? – como ele podia meu Deus? Como
ele podia todo aquele carinho?</div>
<div class="MsoNormal">
- não, você já pode ir... </div>
<div class="MsoNormal">
- A casa ta uma bagunça. </div>
<div class="MsoNormal">
- Não to com ânimo para na.. o que você quer aqui? Vai
embora, vai. Vai fazer o que quer que você faça quando não está aqui, quando
não atende o celular... quando eu te procuro e nunca te acho – era o Monstro
falando?</div>
<div class="MsoNormal">
- Eu não entendo porque isso agora, me fala, o que eu fiz? A
bateria do celular acabou, droga, todas as baterias acabam um dia, você sabia
disso? – exasperação, chateação – Ainda num entendi tudo isso – ele mostrou
apontou ao redor – Tudo isso, todo escândalo por causa de uma bateria?</div>
<div class="MsoNormal">
- Onde você tava, me fala? – o Monstro tomando às rédeas ela
percebeu no tom de voz - A sua bateria
não acabou, o celular ligou quando você chegou. Eu liguei. Por que você
precisou desligar a merda do celular? </div>
<div class="MsoNormal">
- Ligou mesmo tem certeza? Agora num tem como saber, você viu o que fez
com o celular? – Viu, o Monstro o tinha transformado em pedaços. </div>
<div class="MsoNormal">
- Por que você voltou aqui? Por quê? – O Monstro novamente
tomando conta de todos os sentidos. Ele a agarrou. Segurou os braços, tomou a
boca com a dele. Calou os gritos. Ela chegou a rever as cenas da infância.
Estremeceu, seria diferente, não seria como a mãe, não arrancaria sangue da
boca dele. Beijou também. Agarrou também. Pendurou-se no pescoço dele, como se
assim pudesse sair daquelas ondas furiosas em que o Monstro a engolfava. </div>
<div class="MsoNormal">
Alguma cosia naquela atitude o desesperou. O amor deles era
quase sempre lento, poucas vezes tanto desespero, tanta fome era demonstrada em
beijos. Os toques foram violentos, uma luta de dominação, bocas, arranhões,
roupas rasgadas, penetração na escada, escoriações em joelhos. Cotovelos na
parede. </div>
<div class="MsoNormal">
Sangue vermelho de peles rasgadas sendo espalhado em partes
da casa, nunca antes imaginados, um amor de bicho, até então desconhecido num
casal de tanto tempo. </div>
<div class="MsoNormal">
A pele dela reluzia, na tentativa do corpo de manter a
temperatura, a fina camada de suor brilhava na barriga onde ele agora
descansava a cabeça. Satisfeitos, mas assustados, os dois. </div>
<div class="MsoNormal">
- Ainda to sem entender nada. </div>
<div class="MsoNormal">
- Eu também – ela disse, agora já mais quase parecida com
ela mesma, já quase sem Monstro dentro do corpo. </div>
<div class="MsoNormal">
Ele beijou a barriga,
subiu para o rosto, beijou a boca, tocou o rosto dela com a barba do jeito que
ela adorava. – Me promete que não mente pra mim – ela deixou escapar, mas dessa
vez não era o Monstro, era ela mesma.</div>
<div class="MsoNormal">
- Eu não menti para você, não dessa vez. </div>
<div class="MsoNormal">
- Então, das outras vezes? – ela levantou a sobrancelha</div>
<div class="MsoNormal">
- Nada grave, esquecimentos bobos. Nunca para te
magoar. </div>
<div class="MsoNormal">
- Não mente pra mim, ou você sabe não sabe mentir, ou eu sou
sensível demais – os olhos marejados outra novidade para ele até então. </div>
<div class="MsoNormal">
- Vou fazer o máximo, prometo. Ele voltou a beijar, o rosto,
a boca, passou a barba no seio – ela respirou fundo – ele abocanhou o mamilo.
Qual a chance da gente repetir isso de novo? Sem parte de quebrar metade da
casa? </div>
<div class="MsoNormal">
Ela riu</div>
<div class="MsoNormal">
- Talvez se você mentir pra mim de novo o Monstro venha. </div>
<div class="MsoNormal">
- O Monstro? </div>
<div class="MsoNormal">
- É, mamãe às vezes fazia essas coisas com o meu pai,
quebrava metade da casa, e faziam as pazes estranhamente. Eu costumava dizer
que o Monstro tomava conta dela. Acho que sou mais parecida com ela do que eu
gostaria. – disse triste, resoluta. </div>
<div class="MsoNormal">
- Quem sabe a gente não mantém o Monstro ocupado com outra
coisa e ele mantenha a casa inteira? E riu, uma gargalhada que ela não
entendeu, mas depois acompanhou. </div>
<div class="MsoNormal">
- Quem sabe? Aproveitou para montar nele e recomeçar a
sessão de amor, com unhas e dentes. Se era para amar feito Monstro, não dava era
para sair sem marcas. </div>
Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-73059104352949886672012-06-16T22:04:00.002-07:002012-06-16T22:19:30.944-07:00Reposta<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNq9h3cScN6_YwfJG8bgg2XMbREDGUHj5HQtr70eVuOcS-aecfwtxBSDsLp85_UCvWk9QMggTDQDPezcSQNT1bW_I6t1_qmxiofDaFXpRD_4oHR-ItS7fK2hYsRZXZCJpVhDn4Krdq-9xs/s1600/joias.gif" imageanchor="1" style="clear:left; float:left;margin-right:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="233" width="280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNq9h3cScN6_YwfJG8bgg2XMbREDGUHj5HQtr70eVuOcS-aecfwtxBSDsLp85_UCvWk9QMggTDQDPezcSQNT1bW_I6t1_qmxiofDaFXpRD_4oHR-ItS7fK2hYsRZXZCJpVhDn4Krdq-9xs/s400/joias.gif" /></a>
Ele viu em seu rosto o receio, mas sabia que ela o amava. Ele percebeu seu tremor e a força com que segurava a bolsa em frente ao corpo, mas tinha certeza que ela cederia. Mesmo que negasse, ela não tinha forças para resistir a ele. Ela não tinha escapatória, cederia. E já há muito tempo esperava por isso. Esperava que ela decidisse, que ela permitisse. Fora a mais difícil das conquistas. Quanto tempo? Um ano e quanto? Nossa, muito mais tempo do que a última que era tão carente que em menos de dois meses deixara tudo em suas mãos.
Ela não. Ela era especial. Bonita, inteligente, sagaz, mas tinha cometido um erro, apaixonara-se por ele. Agora, apenas o golpe final. Tudo estava armado, mais uns minutos e ela entregaria, a chave do carro, as jóias, o dinheiro, o coração, a vida. Ela entregaria tudo que ele pedisse e ainda ofereceria mais. Ele estava louco, louco para entrar em ação de novo. Nunca demorara tanto numa conquista, mas esta era uma coroa diferente. Tinha tudo que ele gostava, inclusive beleza. Se cuidava, cheirava bem, se vestia bem. Tinha grana, muita grana. Carro do ano, jóias, muitas e valiosas, que agora estavam no cofre do hotel. Ele a tinha convencido de que precisava mostra-las naquela festa em especial. O bom é que agora ninguém acreditaria que ele a matara, conseguira convencer a todos que a amava, inclusive o imbecil do filho dela.
Acreditariam em assalto, afinal para todos os efeitos ele nem estava ali naquele momento. Tinha voltado ao Brasil, e, quando chegasse procurando por ela no hotel, a encontraria morta, vítima de um assaltante nas perigosas ruas centrais de Nova York. Tudo perfeito, o plano perfeito.
Em seguida, ouviram-se tiros.
Ele olhou a própria arma, assustado. Não tinha feito nenhum movimento ainda, como poderia? Sentiu alguma coisa quente escorrer pelo abdômen. Olhou para a mão dela na bolsa, percebeu que ela segurava algo diferente antes.
Caiu ainda meio confuso e pode ouvir
- Eu nunca confiei em você
Depois, só escuridão.Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-11624798640215221422012-01-30T19:39:00.000-08:002012-02-03T19:40:09.533-08:00No compasso<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJ1Uncod7xbK3AnZGtM0l35lTgEar4qFSCTLHdtKfbGMYQoD32urVZncZU-W83m9Kj6HojkMj-bETW_3auvH2hXtbzJuS6XJgub6TIbd7cfjJ_FugzQ87IEEwJ82u84MA7mrkchYcezuva/s1600/tango.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 307px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJ1Uncod7xbK3AnZGtM0l35lTgEar4qFSCTLHdtKfbGMYQoD32urVZncZU-W83m9Kj6HojkMj-bETW_3auvH2hXtbzJuS6XJgub6TIbd7cfjJ_FugzQ87IEEwJ82u84MA7mrkchYcezuva/s400/tango.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5705120037500089714" /></a><br />Deitou a cabeça cansada no peito musculoso dele. Apesar de todo o esgotamento e todo o gozo, sorriu preocupada. Não era muito dada a crenças absolutas em finais felizes ou contos de fadas, mas o relacionamento que começara como um negócio caminhava para um desfecho romântico. Era possível? Sua racionalidade dizia que não.<br />Invariavelmente mulheres como ela que tinham situação financeira estável, que tinham bens, que tinham... tinham... quase nunca conquistavam amor, quase nunca achavam sua alma gêmea e ela já tinha se acostumado a crueza da vida, de lhe roubar aquilo que ela mais gostaria de ter, para de uma hora para outra passar a crer firmemente nessa possibilidade. <br />Então quando cansara de querer dançar e não ter par, fora atrás de um, do único jeito que sabia fazer as coisas. Comprou um par para dançar. Quando o vira pela primeira vez fizera a avaliação: altura adequada, ombros, braços, músculos não muito definidos. Não que fosse importante, ela não queria exibi-lo, queria exibir-se. Mas era também bonito e parecia bem tratado.<br />O acordo saíra na primeira aula que fizeram juntos, não parecia realmente uma coisa de outro mundo. Ela ia busca-lo, nos dias que tivessem festas que ela gostaria de ir, o levaria de volta e ele receberia diária, além de não pagar nada que quisesse consumir.<br />Até que ele começara a ligar, começara a convida-la para sair sem o compromisso da dança, sem o pagamento, sem... nada além da companhia dela e da conversa. No começo, achou a atitude legal da parte dele, que fossem amigos além de pares de dança. <br />Um dia, muito mansamente ele começara a se impor, a elogiar, a desejar, a dizer coisas que a deixavam mexida, nervosa. Um beijo roubado, dentro do carro, e pronto, ela nunca mais seria a mesma até prova-lo por completo. <br />E nesse meio tempo dançar ganhara um novo significado, a fluidez dos passos, os bate-coxas sensuais, e o corpo dela completamente entregue aos floreios que ele fazia no salão. Fora num fim de dança que ele fizera a proposta e ela achou que nenhum passo de tango teria toda aquela dramaticidade, nervosismo ou sentido.<br />Foi a primeira vez que ficou nua na frente dele, e o olhar que recebeu em troca dessa coragem, foi completamente atordoante, o arrepio de aceitação de se sentir gostada... querida... gostosa... a provocara ao extremo. O coração calculista perdera as batidas. <br />Ele nem era um homem, era ainda um garoto acostumado a sair com menininhas, acostumado a corpos jovens e ela já estava acima da idade da pele firme, embora se cuidasse. <br />A maneira delicada e carinhosa como alcançava os lugares no corpo dela, lhe tiravam o folego. A principio, um recuo, uma timidez quase como a primeira vez. Depois, a fome a consumiu e ao mesmo tempo era diferente quase romance, quase como uma relação intensa de gostar profundo embora nenhuma palavra sobre sentimentos tivesse sido dita. <br />Ele conseguira acordar a libido que a muito dormia. Um toque leve no pescoço, um beijo molhado na nuca, os corpos juntos na cama e o vigor da juventude que a inebriava, era quase vinho em seu sangue, uma mistura de calor e entorpecimento. Sentia a pele pulsar e se sentia viva. Era isso que agora a preocupava. Como uma droga, ele começara a se infiltrar, e não era para ser assim, era para ser um negócio.<br />Era pra conseguir livrar-se dele quando quisesse, mas via-se a ligar, via-se a inseri-lo em sua vida. Queria-o sem definir exatamente como conseguiria deixa-lo ficar. Respirou fundo, acariciou o peito sob o rosto, ouviu um suspiro. <br />- mais? – era uma mistura de riso e convite. <br />- como se eu aguentasse... – mais desafio<br />- não aguenta, não? Vamos fazer um teste? – felicidade era isso, a disputa saudável de quem tinha, dava, queria mais prazer. <br />Adorou a mão que se arrastava devagar pelas coxas, subindo e marcando virilhas, barriga, cintura, e parando abaixo do seio nu. – acho que você quer mais – ele disse olhando para o bico do seio eriçado, desceu a cabeça pôs na boca a parte do corpo que pedia carinho, carícias. Ela respirou fundo, agarrava cabelos, cabeça. Arranhava.<br />- assim o outro vai ficar com ciúmes – ela ainda conseguiu brincar, ele parou a olhou nos olhos, meio irritado, meio enciumado. Ciúmes era bom sinal, não? <br />- que outro? – a pergunta feroz a fez rir mais ainda<br />- o outro seio – respondeu rindo<br />Ele sorriu e parou com as carícias<br />- o que foi? – ficou tensa. <br />- não gosto disso, não gosto de saber que sou apenas o rapaz que você paga pra sair com você. Não sou assim... – ele bufou e sentou na cama. <br />Talvez fosse a hora de conversar sério, talvez os dois estivessem se torturando afinal. <br />- você sabe que não é assim... que pode ter começado, mas agora, as coisas estão diferentes. <br />- quão diferentes, me diz?<br />Ela estava sendo pressionada, era isso, finalmente alguém tinha coragem de questiona-la sobre seus sentimentos. O que fazer, fugir como sempre fizera ou ter coragem de assumir que também sentia alguma coisa por aquele menino mais de dez anos mais novo e que ainda buscava um lugar no mundo? <br />- eu gosto de você é isso que você quer ouvir?<br />- eu não gosto de você - ele disse de uma única vez, ela quase sufocou – eu sou louco, apaixonado, você... você... ele também perdeu a fala. <br />Ela sorriu – não vejo problema nisso, ela o abraçou e o trouxe para a cama, continuaram a demonstrar sentimentos da forma mais eficaz. <br />***<br />Ela levantou, sorriu, era certo, era errado, o que estava fazendo afinal de contas? Um telefone começou a tocar em algum lugar do quarto. Ele ainda dormia profundamente. Atendeu. <br />- Você ainda está com a velha? – uma vez de mulher estridente e mandona se fez ouvir do outro lado. Ela olhou o telefone, era o dele. Desligou na mesma hora era um aviso. Estava ciente.Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-83789342825844901152011-11-28T12:14:00.000-08:002011-12-01T12:28:25.160-08:00VícioSem desculpas, só contos<br /><br /><br />Vício<br /><br />- Oi ?<br />Por um minuto não soube o que fazer. Responder? Sair correndo? Sumir? Ou afundar-se no chão? As vontades invadiram sua mente covarde e seu corpo traiçoeiro não reagiu de imediato a nenhuma idéia.<br />- Oi – a resposta não trazia a surpresa esperada. Não demonstrava a insegurança ou a alegria por encontrá-lo, ou melhor, por ser descoberta.<br />- Você está aí, há quanto tempo? – ele tinha todo o direito de perguntar. Era seu bar favorito e ela sabia disso. <br />- Não é o que você está pensando! – sentiu-se na obrigação de defender-se imediatamente.<br />- Então, o que é? – Não havia confiança na voz dele, apenas uma sobrancelha levantada que indicava além do questionamento a clara certeza de estar sendo contrariado.<br />- Cheguei com uns amigos e...<br />- Onde estão eles? – interrompeu<br />- Pára de me interrogar. Eu não vim atrás de você! – quase gritou, raiva, frustração, orgulho. Cada sentimento brigando com mais força dentro dela para se sobressair. – Não é o que você está pensando – a voz sem querer ia ficando mais alta. – Por que eu viria atrás de você? Não temos mais nada. Só saí pra me divertir um pouco, ou o bar é exclusivo? Os pobres mortais não podem pisar aqui?<br />- Onde estão os seus amigos? – o tom de voz deixando bem claro que ele não ia entrar no mérito da questão sobre ela poder ou não estar naquele bar.<br />- Já estavam de saída. Eu vim ao banheiro – ela sabia que ele sentia a mentira da última frase. <br />- O banheiro das mulheres é do outro lado – parecia querer provar que ela estava fazendo o que dizia que não estava.<br />- Eu sei - respondeu rápido - Agora, eu sei, se corrigiu, você nunca me trouxe aqui, eu não conhecia o bar - era uma acusação e uma constatação juntas. <br />- você sabe o motivo – o que mais a irritava era o fato dela estar se sentindo culpada e ele posando de correto no meio do bar. <br />- Sei? Ok. – levantou as mãos espalmadas – não precisamos discutir isso, nunca mais precisaremos discutir mais nada mesmo. Não tem mais importância. <br />- Não? – a maldita cínica e sarcástica sobrancelha levantada a inflamava de raiva – Seus amigos não a estão esperando? A maneira como ele falava também a deixava furiosa, era quase um pai, pegando a filha em arte flagrante.<br />Quis ser indiferente - Por isso mesmo não posso conversar agora – saiu quase correndo em direção ao banheiro feminino. Queria chorar. Morrer. Que idiotice tinha sido aquela para entrar e procurá-lo? O relacionamento tinha acabado. Não tinha mais nada haver com ele. Embora uma vontade masoquista a tivesse feito aceitar o convite dos colegas de trabalho para uma esticadinha no fim de noite. Não esperava ir parar ali, mas já que estava lá, não custava nada, tentar vê-lo. Só isso, olhar para ele. Morria de saudades. Sabia de sua culpa e responsabilidade pelo fim do relacionamento. Mas o coração doía tanto. Os olhos ficaram inundados. Tentou se conter. Precisava sair inteira do banheiro, como se nada tivesse acontecido, entrar num taxi e ir pra casa, garantira aos amigos que ficaria bem, apenas queria dar sua última espiadinha nele para poder dormir em paz. Se é que algum dia conseguiria encontrar paz novamente. <br />- Seus amigos já foram – ouviu imediatamente ao sair do banheiro – Eu levo você pra casa, as palavras ditas como se ele estivesse fazendo um extremo sacrifício, não sei por que você insiste em sair com esse pessoal que te deixa sozinha – e lá vinha o mesmo tom de recriminação que ele usara quase sempre. <br />Nunca tinha aprovado os amigos dela. Nunca tinha aprovado os lugares aonde ela ia. Principalmente se ele não estava junto. Mas ela era proibida de freqüentar os lugares aonde ele ia. <br />- Não são lugares para moças, ele quase sempre repetia, como se ainda vivessem na idade média.<br />- Já sou uma mulher. Posso ir aonde bem entender...<br />- Não vamos discutir isso de novo. – não, não iam discutir isso de novo, nunca mais discutiriam nada referente aos lugares que freqüentavam afinal não tinham mais nada em comum, nem cobranças, nem afinidades. <br />- Claro que não, minha vida e os lugares que vou não são da sua conta. São?<br />- Não – seco, frio, <br />- Ótimo. Não preciso que você me leve para casa. Eu vim sozinha e vou voltar sozinha. <br />- Não. Eu levo você. – insuportavelmente mandão, ela tinha esquecido como odiava aquele tom autoritário. A raiva ia fluindo cada vez mais rápido pelo sangue.<br />- Não acredito! Vai abandonar seus amigos para me levar em casa? Quanta deferência... também sabia ser sarcástica <br />- Não comece. Não vou brigar. Eu vou levar você e pronto. <br />- Ah! Quantos anos você acha que eu tenho? Quinze?<br />- Eu sei exatamente quantos anos você tem. Mas já bebeu o suficiente.<br />Ela riu alto – sim, você não gosta que eu beba. Pois para o seu governo, eu bebo o quanto eu quiser. <br />- Cala a boca. Você está fazendo escândalo – ela parecia realmente irritado, o que a deixou ainda mais irada<br />- Escândalo? Você ainda num viu... – a mão grande e forte dele tapou a boca, o braço a agarrou pela cintura. Ele carregou a mulher que se debatia pelo bar e entrou com ela no primeiro táxi que viu.<br />- Você passou de todos os limites – ele a agarrou e beijou com toda a fúria que tentava conter, depois ânsia, fome e saudades superaram a raiva e o rancor – e antes que você fale qualquer coisa. Realmente não me interessa o que você veio fazer aqui. Não me interessa com quem você veio. Muito menos o quanto você bebeu... Eu tava louco de saudade. <br />Ela correspondeu ao beijo, jogou-se em seu peito – Eu não bebi – assumiu ainda zonza. <br />- Percebi... – ele continuava com a língua próximo a boca dela<br />- Mas eu não vim... juro.. de verdade<br />- Já disse que não me interessa. Vamos para casa. Eu preciso de você<br />- Casa? <br />- Sim, a minha. De onde você nunca devia ter saído...<br />- mas... <br />- Não quer ir? Os olhos dele ficaram inseguros, quase angustiados<br />- Mas e sexta que vem?<br />Ele sorriu – Temos sete dias até a próxima briga. Quero te beijar bastante e me lembrar de todos os motivos pelos quais eu fiquei feliz de você ter ido embora.<br />- Feliz, é? Bateu nele de brincadeira<br />- Por dois minutos sim. O resto do tempo eu só queria você. <br /><br />Marcia Lima <br />29/05/08Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-55333913077008502902011-10-17T12:48:00.000-07:002011-10-17T13:04:24.748-07:00NovidadesQueridos, <br /><br />Desculpem a demora, andei meio sem internet e meio sem ter o que dizer depois da festa que vocês fizeram do Lançamento do #ContosVermelhos. <br />Fiquei tão feliz que tive q sentar a cabeça. Agora, vem coisa nova legal ai e vou precisar da ajuda de todos. <br />Quem tem seus contos e quiser publicar vamos abrir espaço...<br />Quem tem fotos baseadas em contos e quiser mostrar também teremos espaço...<br />Preparam-se que vem novidade por aí ahhe enquanto isso um conto...não é inédito, mas será publicado pela primeira vez nesse espaço. <br /><br />Noite de Liberdade <br /><br />Quando os hormônios explodiram em beijos e toques, não sabiam sequer seus nomes. A escuridão da boate não permitia uma visão concreta dos rostos, apenas o explorar cego de mãos e carícias ousadas. <br />Um encontro incrível e puramente sexual. Como animais que eram movidos por impulsos e desejos, por hormônios e salivas. Ali não eram duas pessoas com todas as suas histórias de vida, não eram humanos com sentimentos, apenas davam vazão a sua vontade premente e única, a de tocar e ser tocado. <br />Havia muito de carência de ambos os lados, havia muito de desilusões e por isso a falta de diálogo era tão importante naquele primeiro momento.<br />Tudo deveria terminar ali, onde tinha começado, na pista de dança da boate escura, sem rostos, sem nomes, sem nada.<br />- vamos sair daqui? – sussurro quase inaudível<br />No momento em que ele expôs a pergunta, gritava nela uma certeza absoluta de ser mulher no corpo dele. Ao mesmo tempo brigava dento de si todas as milhões de recomendações ouvidas a vida inteira. Não sabia quem ele era, não sabia nada. Mas a parte que comandava ali dentro, não deveria se preocupar com isso e pela primeira vez, tomou coragem de ser mais do que seus medos. <br />Não viu exatamente nada, não sabia como tudo seria depois, apenas sentiu. A excitação, o desejo e o prazer, sentiu-se mais mulher naquele momento do que em todos os outros vividos até ali.<br />Era como sair de si mesma pra encontrar apenas o seu eu original. Parar de pensar para obedecer cegamente sua vontade maior. De ser o objeto de paixão e libertar o coração para a vida. <br />- vamos – a decisão estava tomada sem volta, sem desculpas.<br />E os anos de repressão sendo uma menina boazinha acabou num gozo histórico no primeiro motel barato perto da boate onde estavam.Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-60747225828769351972011-05-16T20:07:00.000-07:002011-05-18T19:16:14.935-07:00Dando SatisfaçõesGente, <br />16/05 foi um dia incrível, nunca esperei uma aceitação tão grande por parte dos meus amigos e conhecidos que gostam e confiam no meu trabalho. O que começou com uma campanha apenas para imprimir uns livros virou uma campanha para o lançamento de uma obra quase coletiva, pois todo mundo contribuiu com alguma idéia e até com palavras de incentivo.<br />E agora eu não preciso vender apenas 100 livros (eu já achava um número absurdo antes) Mas preciso vender 150 heheh para que possamos fazer um coquetel de lançamento, com cantores como Juliana Sinimbu e o a Trupe Realejo que já se ofereceram para animar a festa, agora eu preciso procurar um espaço para receber os amigos e autografar, gente, eu vou autografar livros hehehe. Só vcs mesmo. <br />A campanha que começou meio de brincadeira por volta de meio dia, chegou ao seu auge no meio da tarde, quando pessoas que me são muito caras embarcaram nela, solicitando de 2 a até 10 livros.<br />Definimos a data de lançamento 11 de junho por ser véspera do dia dos namorados e como os contos são contos sensuais, o livro acaba sendo uma boa opção de presente. <br />Então falta pouco agora temos 111 exemplares encomendados, falta vender 39 livros, agora. Então vou publicar aqui todos que estão na luta comigo que no dia 11/06 poderão lá, na noite de autógrafos, me ver chorar de alegria e emoção. <br />Vocês não imaginam o que acontece dentro da gente que escreve quando percebe que muitas pessoas admiram seu trabalho. Então vou publicar o nome dos incríveis apoiadores dessa jornada. <br /><br />1.@simoneromero / 2.Patricia Merces / 3.Zilene SantaBrigida / 4.@anajuliaPT13 / 5.@sta_Meirelles / 6.@vladcomv / 7.@Riingrid / 8.@taianinha / 9.@utidenis / 10.@caroline_santos / 11.@tantotupiassu / 12.@josiemota /13.@paulinareis20 / 14.@funcional / 15.@beto_persi / 16.@blogkatia / 17.@socel10 / 18.@leilalizandra / 19.@_thiagorosa_ / 20.@speciallgrill / 21.@fra_miranda / 22.@flavio_ssbv / 23.@rosijatene / 24.@MirrelleNobre /25.@sallespris / 26.@heliocadeth / 27.@maicow / 28.@macielrosana / 29.@vilansama / 30.@tweetesdacacau / 31.@edsoncd / 32.Rodrigo Maia / 33.Fernando Diniz / 34.Maria Mauricia / 35.Maximo Pinheiro / 36.Ieda Ferreira / 37.Aline Monteiro / 38.Herlan Ferreira / 39.Hamilton Pinheiro / 40. Danielle Ferreira /41.Cleyton Raiol / 42.Rosana Rodrigues / 43.@IsmaelNeto / 44.@_Mar_b / 45.@realizador / 46.@rhmbraga / 47.@bre_malheiro<br /><br />Novos apoiadores 17.05.11 - 48.@arthurnogueira/ 49.makiko_kio / 50.Subte-Subte / 51.@nayara_beltrao / 52.@Ah_cereja / 53.@donadica / 54.@valerialima_ / 55. @_fabiomedeiros_ / 56.@espacomonica / 57.@ayresmarcus / 58.@klebersfarias / 59.ritamcsoares / 60.crodia / 61.José vieira / 62.Heloisa Hun / 63.@tony_leão / 64.@johkotinho<br /><br />Novos apoiadores 18.05.11 - 65.@rodolfomarques / 66.markitopls / 67. Danielle Ferreira / 68.@luizalex / 69.@fabriciorocha <br /><br />Se seu nome num tá nessa lista e vc quer me ajudar é só entrar em contato com @lentescorderosa pelo tuiter ou pelo e-mail marcialimajor@gmail.com<br />Estamos às ordens, apenas lembrando que o dinheiro deve ser todo arrecado até o dia 2 de junho.Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-46005841000525829672011-05-16T07:48:00.000-07:002011-05-16T07:51:12.429-07:00Por livrosEstou começando uma campanha para transformar meus contos deste blog em livros.<br />Os livros custarão R$20,00 e preciso de pelo menos 100 para negociar a impressão com a gráfica, caso vc tenha interesse entre contato com o blog<br />ou pelo @lentescorderosa<br />ou pelo e-mail, marcialimajor@gmail.comLentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-64851793672937052612011-04-04T07:25:00.000-07:002011-07-25T19:50:45.032-07:00Brincadeira de mau gostoEsse é um dos quinze contos que vão compor o livro que estou tentando lançar, preciso da ajuda de vcs... compre um livro ao valor de R$20,00 <br /><br />Construa esse sonho comigo<br /><br /><br /><br />Reconhecimento<br /><br />Quando o hálito esquentou o bico do seio teve certeza que nunca mais acharia violência uma tortura maior que aquilo. Todos os pelos do corpo, pelos em lugares que ela nem imaginava que tinha, se eriçaram. Mas não sairia perdendo da brincadeira. A aposta era quem resistia mais tempo sem implorar pela misericórdia do amor completo. Afinal a velocidade com que ele costumava acabar os encontros a tinha tirado do sério. <br />E agora, por sua imposição ele tinha descoberto brincadeiras de não-toque que por muito pouco não a estavam fazendo gritar. Era a primeira vez que se permitiam um tempo de exploração quase reverencial. Beijos molhados na nuca, mãos leves na pele das costas, unhas roçadas na parte detrás dos joelhos. Sentir tudo isso era bom, curtir, aproveitar, desfrutar milimetricamente era incrível. <br />Começava a achar que ia explodir, ia explodir pele, cabelo, sangue e semem por todos os cantos daquele quarto escuro. Uma parte de si, já tinha ido ao paraíso e voltado, outra mantinha uma pose que não era própria dela. Ela, que simplesmente largava a roupa no caminho do quarto, sem se importar com as artimanhas feministas de mostra e esconde. Ela que empurrava determinada, mordia e beijava no comando dos desejos. Estava hoje muda, com a respiração quase suspensa,o coração e o ventre no maior rebuliço. <br />Era pra quem mesmo aquele desafio? <br />Era sobre o que? <br />As pernas tremiam, o corpo implorava um preenchimento completo quando o hálito soprou o umbigo e os dentes encontraram a barriga, numa vagareza que nem milhões de anos ela teria acreditado possível. Parte de si derretia-se em líquidos, suava com o esforço de se conter e mergulhava no desejo expectante. Pronta, louca... <br />Começou a morder a ponta do travesseiro quando sentiu o hálito chegar as coxas, desistiu quando a língua provou o gostou dela. <br />- pelo amor de deus – um sussurro quase miado, quase espremido <br />Ele sorriu<br />- você não pediu? Eu to só começando! ainda disse antes de brincar com o corpo dela, como se o desafio tivesse sido apenas um pretexto para que ele pudesse mostrar todas as suas técnicas de tortura. <br />E quanto mais ela se remexia, se contorcia, pedia e implorava mais ele sugava, lambia, e brincava com ela e a segurava de uma forma que a impedia de fazer o que mais gostava que era comandar o ritmo dos acontecimentos entre eles. Soube que era sim possível um segundo orgasmo antes de mesmo da primeira penetração. Não se conteve mais e o grito foi ouvido longe.Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-75275160480964758142011-03-21T19:56:00.000-07:002011-03-21T19:59:08.777-07:00PausaDesculpem a demora, vo pausar um pouco, <br />Parei a poesia pra viver outra fantasia<br />Conheçam o @plugado<br />o héroi de a vida em 140 caracteres. <br />www.avidaem140caracteres.blogspot.comLentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7642788714262913891.post-87146186456596523522011-03-14T21:38:00.000-07:002011-03-14T22:27:55.931-07:00MamboO que você acha que acontece com os corpos que se roçam ao dançar um mambo?<br />Um mambo crioulo?<br />Nesse conto tudo pode acontecer.<br /><br />Prometo mais pimenta no próximo, (Meu Deus, to prometendo pimenta há algumas semanas, juro q vai rolar hehe) <br /><br />Mambo<br /><br />Ele estava num desses bares de subúrbio. Num desses onde o banheiro das senhoras é imprestável e o dos homens, só o lugar. <br />Hipnotizado. <br />Num canto do salão uma moça, com roupas esvoaçantes, dançava um mambo. Não desses mambos que se ouvem em filmes americanos, mas um mambo bem paraense. Bem Maria Lídia. Desses mambos que apesar de pedirem par, ela dançava só. Não sabia dizer se ela estava bêbada. Não, provavelmente era uma embriagues causada pela música. Ela: de olhos fechados remexendo os quadris, com os braços acima do corpo, sozinha num canto do salão, como se não se importasse de estar só, desde que pudesse ouvir a música. <br />“Mexe e remexe a cintura na saia”<br />Os cabelos acompanhavam a música<br />“Eu, danço mambo crioulo. Canto dentro do mambo, cabelo no grampo, saião de rodar”.<br />Era som de batuque, misturado com maracas e saxofone.<br />A voz forte de mulher reverberava pelo salão. <br />Ele estava de férias, visitando o norte do Brasil, olhando a população local, mas ela não merecia atenção, não mais do que as dançarinas seminuas no palco. No entanto, ao fazer a tradicional varredura no ambiente a encontrara, num canto, dançando. Estava hipnotizado pela expressão de puro prazer em seu rosto. Teve vontade de tocá-la. Gostaria de saber como ela se comportaria numa cama. No mesmo momento sentiu o desejo pulsar entre as pernas.<br />O que era aquilo?<br />Nunca se sentira assim, só de olhar alguém ao longe. O que ela tinha?<br />De repente, como se ela tivesse sentido o olhar de alguém, parou de dançar. A magia acabou. Ela não passava de uma criatura normal. Com roupas normais. Mas sorriu e seu sorriso o chamou para perto.<br />- Me ensina a dançar? <br />Ela sorriu mais e respondeu que não entendia. <br />Só então ele percebeu que tinha falado em inglês. Caçou em sua memória as palavras em português que aprendera naquela tarde. E repetiu com gestos:<br />- Eu quero aprender a dançar – e continuo sorrindo.<br />Ela meio que sem entender, tentou explicar. Também não sabia, afinal, se soubesse estaria no salão e não num canto.<br />- Como não sabe? <br />Sem entender ela pediu desculpas e tentou sair. <br />Ficou desolado. Tudo bem que ela não quisesse dançar com ele, mas agora tinha perdido até a visão de seu rebolado e era um rebolado tão natural e sem pretensões de ser instigante que por isso mesmo era muito mais excitante do que o do palco. <br />Ele voltou pro seu lugar e a procurou. A viu em outro canto. Ouvindo e bebendo algo. Percebeu quando ela o viu. Percebeu e ficou nervoso quando ela voltou. <br />- Não sou prostituta - disse de cara. Isso ele conseguiu entender talvez pelo olhar severo dela. <br />- Ok. – ele realmente nem sabia o que dizer, se era justamente aquilo que gostaria de ter. <br />- Podemos dançar. Mas não sei ensinar. Vai ter que me seguir... <br />- Por favor, fale devagar – ele pediu. Seu conhecimento de português ainda era limitado.<br />E aproximou-se do corpo dele. Encostou-se nele. <br />Ele sentiu que mais um pouco não conseguiria conter seus impulsos. Mas teve a prova de que era um homem com domínio de seus atos quando ela começou a rebolar com a música bem próximo dele. <br />Disse algo baixinho que ele teve que adivinhar:<br />- Sinta a música, se não você não vai saber como sair do lugar.<br />De repente ele estava dando os primeiros passos. Não sabia se tinha aprendido, se só seguia o ritmo dela. E adoraria continuar a faze-lo pelo resto da noite: seguir o ritmo rebolante dela. <br />Pensou em porque ela teria dito que não era prostituta. Talvez soubesse que turistas só querem sexo. Olhou seu rosto, era um rosto bonito, sorrindo a dançar. Até que ela sorriu para ele. E ele teve ímpetos de agarrá-la e beijá-la, mas ela não era prostituta. Para aliviar a vontade quis perguntar se estava acertando, mas acabou calando-se não queria parar de olhá-la. <br />Hipnotizado.<br />O que ela queria se não era prostituta? Romance? Romance, sim. Ela queria romance. Teve certeza. Ela parecia do tipo que gostava de romance. Um romance com um estrangeiro que iria logo embora, sem compromisso. Só romance. De repente esse pensamento lhe deu raiva. Será que ela estava acostumada a ter romances com estrangeiros?<br />Parou de dançar. E ficou olhando. A viu rir e continuar:<br />- Não é complicado. Não desista – ela insistia. Já parecia bem a vontade na missão de ensiná-lo.<br />Ficou assustado com o que sentia, achava estranho que de uma hora para outra começasse a pensar nela com as roupas usadas em sua terra. Naquele lugar frio para onde teria que voltar. Ela aproximou-se mais, roçava o corpo no corpo dele. E tentava mostrar como seria se mover daquela maneira. <br />- Eu não sou prostituta - ele lembrava e, no entanto, estava ali: instigando-o, fazendo com que ele quisesse e quase enlouquecesse de vontade de tocá-la, abraçá-la, agarrá-la. Queria leva-la para cama e vê-la gritar de prazer, queria saber se o rosto dela ao gozar conseguia ser mais belo do que dançando. <br />Aproximou-se para beijá-la. E seus corpos se encaixaram. <br /><br /><br />Sempre ouvira falar em pessoas que se apaixonavam em viagens desse tipo. Mas nunca pensou que pudesse acontecer com ele. Agora estava perdido. Olhava-a dormir. Não queria ir embora, mas o dia da partida se aproximava. Queria leva-la, mas não podia imagina-la em sua terra, em meio a sua gente: tão diferente, tão menos calorosa. Teve medo do que aconteceria a ela por lá. Enquanto isso ela dormia. Achava que estava amando. E que era a primeira vez que isso acontecia. Porque tudo e qualquer coisa agora só seria importante se ela sorrisse daquela maneira. Se ela fosse feliz. <br />É, nunca pensara que pudesse acontecer com ele. Mas acontecera, fora tomado duma necessidade de ficar, que era maior do que suas forças. E riu ao lembrar de uma música que em Belém sempre se canta: “Chegou ao Pará, parou. Tomou açaí, ficou”. É, ele tinha conhecido uma certa Jussara, que o tinha feito ficar.Lentes Cor de Rosahttp://www.blogger.com/profile/13559524155461659520noreply@blogger.com0